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O avesso da pele

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o maior problema em decidir que vou escrever alguma coisa sobre todo livro que eu ler esse ano é que tem livros que eu não consigo colocar em palavras o que senti durante a leitura. esse, obviamente, é um.

o avesso da pele foi um livro que peguei há um bom tempo, mas que fui adiando a leitura porque nunca parecia ser a hora de deixar que ele brilhasse e, bem, já faz algumas semanas desde que finalizei e não paro de pensar nele. tinha ingresso para ver a peça de teatro no sesc aqui em são paulo, mas estava doente no dia e acabei não indo — se arrependimento matasse…

de toda forma, é uma leitura rápida, que não te faz querer largar ao mesmo tempo em que te apresenta um drama familiar e social que emociona pela delicadeza e que expõe a disparidade social e racial de forma igualmente didática e poética. recomendo a leitura, o que já estava claro há semanas quando dei a nota, e espero que o autor tenha cada vez mais reconhecimento.

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“O Avesso da Pele" é uma obra literária que se destaca não apenas pela trama envolvente e complexa, mas também pela profundidade das reflexões que provoca. A história de Pedro após a morte de seu pai é mais do que uma simples jornada de resgate do passado familiar; é um mergulho nas questões mais essenciais da identidade e da condição humana.

Jeferson Tenório apresenta um retrato contundente de um país marcado pelo racismo e pelas consequências devastadoras desse sistema para a vida de pessoas como Pedro. A narrativa sensível e brutal ao mesmo tempo expõe as feridas profundas deixadas por uma sociedade que marginaliza e oprime, e Pedro se torna o catalisador para explorar essas feridas em suas próprias experiências.

A relação entre pais e filhos é explorada de maneira magistral, revelando as complexidades emocionais e os desafios enfrentados por aqueles que tentam reconstruir laços quebrados ou compreender a herança deixada por gerações anteriores. As fraturas existenciais de Pedro refletem não apenas suas próprias lutas, mas também as lutas de uma nação em busca de reconciliação e justiça social.

A jornada de Pedro é um processo de dor, mas também de descoberta, redenção e liberdade. À medida que ele confronta seu passado e seu presente, o leitor é levado a refletir sobre suas próprias experiências e sobre as questões universais de identidade, pertencimento e superação.

"O Avesso da Pele" não é apenas uma história; é uma experiência literária que desafia, emociona e inspira, deixando uma marca indelével no leitor e reafirmando o poder transformador da literatura em nossa compreensão do mundo e de nós mesmos.

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Forte e ao mesmo tempo delicado, o autor Jeferson traça a história de Pedro em meio a uma narrativa que estamos pouco acostumados e isso é incrível, porque te traz um outro olhar sobre as crueldades do racismo que não são de hoje, mas estão intrínsecas desde os primórdios da humanidade. Dá vontade de marcar de quotes o livro inteiro, e na verdade foi meio isso que aconteceu, e não se engane, apesar de ser um livro com menos de 200 páginas, ele te arrebata desde o começo e te leva à águas tão profundas e sinceras que você simplesmente não consegue parar de ler, realmente para sentar e ler. O livro traz uma sensação como se tivesse realmente acontecendo com você e de uma forma tão nítida e clara que não dá para ignorar e deixar de lado e sim tomar as rédeas por essa luta que não tem fim, infelizmente. Merece MUITO o prêmio Jabuti e deveria ser MUITO mais divulgado, é maravilhoso e nem sempre para contar a história e dar spoiler, mas pela experiência de leitura que vai te proporcionar essa narrativa tão real. SÓ LEIAM por favor.

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É lamentável que uma obra tão significativa como "O Avesso da Pele" tenha sido alvo de censura em Santa Catarina.

"O Avesso da Pele" é uma obra que mergulha nas complexidades da vida urbana: identidade, violência e marginalidade. Jefferson Tenório, o apresenta uma narrativa envolvente que entrelaça diferentes histórias e personagens, proporcionando ao leitor uma reflexão profunda sobre as nuances da existência humana, da raça, da história, de relacionamentos e de dissabores.

A trama se desenrola em Porto Alegre, revelando os contrastes sociais e culturais de uma cidade em constante transformação. Habilidosa, a escrita de Tenório captura a essência dos personagens e dos cenários urbanos com uma precisão impressionante em poucos detalhes. A cada página, somos confrontados com dilemas morais, conflitos emocionais e reviravoltas inesperadas .

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Eu tenho essa edição parada na minha estante há bastante tempo, mas como a leitura é feita de momentos, até então eu não havia sentido que o livro estava me chamando.

Claro que isso mudou quando eu vi toda a polêmica em torno da censura que esse livro vem sofrendo em alguns estados do país.

Vindo de >certos< estados, eu já imaginava que o motivo que deram era com certeza infundado, mas foi a partir desse alarde que decidi enfim começar “O avesso da pele”.

O livro é a história de Pedro, mas não unicamente dele, e na verdade quase nada dele, já que ele revive a história de seus pais a partir do momento que o mesmo morre vítima de violência policial.

Eu gostaria muito de dizer que isso acontece apenas na ficção, mas é tão frequente ouvirmos sobre algum homem negro morto durante uma abordagem policial que essa rotina já ficou banal, muito banal.

E essa é “só” uma entre tantas situações racistas, tão enraizadas em nossa sociedade, pelas quais os personagens passam. 😰

Outra grande força da história vem da forma como o livro é estruturado. Os relatos de Pedro, misturados às memórias de seus pais são divididos em capítulos curtos, em único parágrafo únicos.

Esse fluxo continuo não é cansativo em nenhum momento, e a maneira em que a história é contada nos aproxima ainda mais dos sentimentos que Pedro vivencia no momento de seu luto.

É como se ele precisasse descarregar logo para enfim encontrar um pouco de paz...

Infelizmente, vivemos em uma sociedade profundamente racista, e não é retirando “O avesso da pele” das escolas que magicamente o racismo que o livro denuncia vai sumir junto.

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Dilacerada. Foi assim que me senti ao terminar essa leitura.

Humano e honesto, em poucas páginas o Jeferson consegue te fazer sentir muito próximo aos personagens, e desde as primeiras páginas vem surgindo aquilo aperto no peito e a vontade de acolhê-los.

Uma pena um livro com uma história tão forte quanto essa estar passando por censura em algumas escolas. Triste em saber que as pessoas que lutam por essa censura nem ao menos leram o livro. Mais triste ainda é essa realidade cruel que o livro retrata ainda é tão presente na vida de muitos.

Viva a nossa literatura contemporânea que é tão linda, tão forte e tão poderosa.

Obrigada #NetGalley e #CompanhiaDasLetras pelo ARC.

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Sabemos que o racismo existe. Eu vi e vejo acontecendo ao meu redor, infelizmente, com frequência demasiada. Busco combatê-lo e alertar as pessoas quando me deparo com ele. Já convivi em ambientes corporativos em que as piadas racistas eram comuns e absolutamente constrangedoras, além de criminosas, mas isso não está restrito a esses ambientes. Já me percebi tendo atitudes racistas (como descritas no livro), mesmo sem querer. Eu sei, eu vejo o racismo funcionando dessa forma estrutural, como agora sabemos que ele funciona.

Contudo, saber e ver é muito diferente de vivê-lo “na pele”, de escutar ou de ler o relato brutal de quem vive isso “na pele” diariamente, a ponto de aferrar-se, como um tipo de autopreservação, ao “avesso da própria pele”, porque essas pessoas foram reduzidas à cor da sua “pele”, o aspecto mais superficial de um corpo, qualquer que seja ele.

Jeferson Tenório nos premia com essa narrativa cortante, inflamada e inflamável, sobre o veneno letal que é o racismo estrutural na sociedade brasileira. Como ele estigmatiza e condena pessoas a sofrimentos e segregações diversas, e mesmo à morte – além da morte literal, também vários outros tipos de morte: a invisibilidade social, cultural, profissional e, e certa forma, à morte psíquica.

Ao narrar principalmente na segunda pessoa – um recurso raro de ser utilizado por escritores – mas entremeado por outros narradores, o eu (o filho do protagonista “você”) e a outra (a mãe e outras personagens) –, Tenório torna a estrutura de seu romance dinâmica, mas também, propositalmente incômoda, porque temos que nos colocar no lugar daquele que vive e sofre a estória trágica que é contada, nos “obrigando” ao exercício de andar nas suas roupas, nos seus sapatos e na sua “pele” negra e estigmatizada, com todas as implicações. E faz um paralelo brilhante com Dostoiévski, através do seu protagonista na sala de aula, quando este propõe aos alunos “entrar na pele” de Raskólnikov, protagonista do claustrofóbico e magistral Crime e Castigo: “eu conheço um cara que matou duas pessoas (...) e tem mais: eu sei o que ele pensou antes de matar, eu sei o que ele pensou enquanto estava matando, e sei o que ele pensou depois de matar”. Simplesmente brilhante, Tenório!

Essa é uma daquelas leituras obrigatórias se queremos entender melhor o mundo em que vivemos, e se queremos, especialmente, atuar nesse mundo para que ele se transforme num lugar melhor para todos. Se formos honestos, perceberemos o racismo nosso de cada dia, mesmo quando mascarado de “boas intenções”.

Esse livro nos deixa sem fôlego em diversos momentos. Ele não tem plot twists antásticos e isso é parte da angústia que vai se elaborando e se avolumando ao longo da narrativa, porque já intuímos e antecipamos esse final tão previsível, tão trágico, tão terrível e, infelizmente, tão comum e tornado tão banal nas estatísticas criminais e sociais deste país.

É uma história trágica e infeliz, e mais infeliz ainda por retratar tão fidedignamente essa realidade brutal da população negra no Brasil. Ler este livro é uma das coisas que podem nos ajudar a nos conscientizar um pouco mais dessa tragédia diária que é o racismo estrutural.

É mandatório. E certamente recomendo!

Agradeço muitíssimo à Companhia das Letras pelo presente, através do site Netgalley!

4,5/5

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Em O avesso da pele, Pedro nos conta a história de seu pai.

Uma história nada fácil, marcada pelo racismo, por uma família desestruturada, pelo abandono e pelo luto.

A forma como o racismo foi abordado no livro é diferente de tudo o que eu já li até o momento, capaz de atingir diretamente a percepção do leitor por aquilo que é real, mas que nem sempre observamos e sentimos.

É sair da bolha.
É olhar com outros olhos.

É uma leitura muito fluida, mas também triste e marcante.

E o livro, para mim, foi muito mais do que uma ou outra palavra incômoda em algumas partes, como temos visto as críticas por aí.
O livro é sobre conscientização, reflexão.

Estava na lista há um tempo, finalmente li e valeu demais!

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"O Avesso da Pele", de Jeferson Tenório, é um livro que mergulha nas profundezas das relações humanas, da identidade e do racismo de maneira sensível e impactante. A narrativa acompanha a vida de um grupo de personagens em Porto Alegre, explorando suas experiências e conflitos pessoais.

Com uma escrita envolvente e intensa, Tenório aborda questões sociais e raciais de forma crua e honesta, levando o leitor a refletir sobre preconceitos e desigualdades presentes na sociedade brasileira. Os personagens são complexos e realistas, cada um lutando com seus próprios demônios e dilemas, o que torna a história ainda mais cativante e profunda.

No entanto, apesar da qualidade literária e da relevância temática do livro, "O Avesso da Pele" enfrentou polêmicas e controvérsias em alguns estados brasileiros, resultando em seu banimento em determinadas escolas e bibliotecas. Isso gerou debates acalorados sobre a liberdade de expressão, censura e a importância de discutir abertamente questões sociais difíceis. VIVA JEFERSON TENÓRIO!

Pela liberdade de escrever e ler!!

A obra nos leva à reflexão e ao diálogo sobre temas urgentes e atuais, destacando a necessidade de enfrentar as injustiças e desigualdades que permeiam nossa sociedade. "O Avesso da Pele" é um livro poderoso que desafia o status quo e provoca mudanças, mesmo diante das resistências e controvérsias que possa enfrentar.

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Fui motivada pelos episódios de censura que o livro sofreu e antes de começar a leitura confesso que não sabia nada sobre a história.
Eis que é uma narrativa bastante direta, e a verdade é que história não tem grandes reviravoltas, não tem grandes acontecimentos. O que nós, leitores, encontramos, são vidas e rotinas sendo narradas na mais chata das burocracias cotidianas. E talvez por isso mesmo seja um livro tão brutal. A dureza da vida dos personagens e cada uma de suas relações e formas de se relacionar, é muito próxima da que passamos ou vemos no dia-a-dia. Esse livro não te permite uma fuga da realidade, não te conforta, não te abraça. Ele esfrega a dureza da vida na sua frente com todos os seus altos e baixos. Com toda a sua violência.

É inexperado e ao mesmo tempo e completamente cotidiano. Completamente normal.
Repito: talvez seja por isso que é um livro tão brutal. É excelente.

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Livro intenso, dolorido e belo. Obra essencial para se compreender as entranhas do racismo na sociedade. Mas aborda de modo primoroso uma questão muito cara a mim, que sou professsora... fala de como é desafiador ser docente nos dias de hoje, do sucateamento da educação pública e do adoecimento destes profissionais.
Leiam "O avesso da pele"!

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Eu estava adiando essa leitura já tinha um bom tempo. Mas meu irmão me perguntou minha opinião sobre a censura que o livro vem sofrendo. Então eu precisei ler para dar minha opinião. Eu adiei essa leitura porque na minha cabeça eu pensei que ia ser um livro difícil de ler, o que não é. Ele aborda temas importantes e que podem ser vistos como "pesados", mas que são extremamente necessários falar. Ele escancara o racismo cotidiano que as pessoas pretas sofrem e como isso geram traumas para uma vida inteira, mas o livro também fala sobre luto, famílias, casamento fracassado, ausência paterna, e até do cansaço do professor (profissão de um dos personagens) em lidar com ensino precário e alunos e ter que ensinar um conteúdo quando a maioria não está nem aí para o que está sendo ensinado. Ele também aborda temas sexuais e que talvez esse seja o principal argumento para a censura, mas que não se justifica. São tantos temas que cada um te toca de uma maneira ou de outra. Ainda mais com uma escrita maravilhosa do autor. Eu gosto de livros que me deixam reflexivas por um bom tempo e esse um desses. Enfim, foi um dos livros mais emocionantes que já li na vida.

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Que livro tocante, assim como o próprio autor mencionou, uma frase de Drummond, no encontro virtual sobre o livro, "Algumas palavras duras, em voz mansa, te golpearam. Nunca, nunca cicatrizam."
Foi assim, uma sensibilidade que me tocou e me fez chorar mesmo já sabendo o que aconteceria.
A parte sobre professores, educação, foi escrito com tamanha veracidade que pessoalmente, como filha de professora de escola pública estadual, li pensamentos que me recordo ter ouvido outrora. E fica aqui todo o meu respeito, admiração e parabéns àqueles que assim como o personagem "[...] alguém tem que ficar para apagar o quadro, desligar as luzes e fechar as portas."
Também quero ressaltar que a forma da escrita do autor, foi algo que causou estranheza no começo mas logo fiquei encantada e mal posso esperar para ler mais obras.
Enfim, recomendo muitíssimo a leitura e um lencinho pra acompanhar.

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Acabei de ler o livro e ele mexeu comigo de uma forma inesperada. Não imaginei que, de alguma forma, ele se conectaria com a minha experiência pessoal enquanto filha de uma pessoa negra. Quanto mais velha fico, mais percebo que além das barreiras de gênero, algo me separa de compreender totalmente o meu pai. E lendo esse livro pude perceber que essa barreira é, de fato, porque ele é negro e eu não. Embora tenha passado pelas minhas próprias experiências por ser “misturada”, nunca vou entender totalmente ele. E lendo um filho enlutado descrevendo como em uma carta a história dos próprios pais sinto que um arranhão foi feito nessa barreira. Pude ler histórias e experiências que ouvi dentro de casa, compartilhadas pelo meu pai enquanto eu crescia. Coisas que ele passou que testemunhei. Sinto muito mesmo pela censura dele, principalmente nas escolas do sul do país, sinto muito pelos jovens negros ou jovens como eu que não terão acesso por enquanto a esse livro que pode conversar tanto com eles.

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Agora um dos meus preferidos. Não pela ficção, mas pela identidade. De poder ter tido um espaço onde não me senti estranho. Uma narrativa que consegue tocar tantos pontos da vida de uma pessoa preta. A forma como a diferença de cor se torna latente em relacionamentos, pra mim, foi o ponto mais forte. E a forma como a culpa é questionada e pensada... simplesmente um livro imprescindível pra mim.

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Após a morte do pai, Pedro escreve para reconstruir a história da família e a sua própria. Assim conhecemos Henrique, um professor negro que, vivendo em Porto Alegre, conheceu várias faces do racismo. Somo apresentados aos pais de Henrique, avós do narrador, também alvos do racismo. Por fim, há os conflitos do próprio Pedro ao descobrir seu lugar no mundo e perceber o lugar em que pretendem colocá-lo.

Li motivada pela censura que o livro tem sofrido nas escolas e, apesar da via torta, estou contente pela oportunidade de ter contato com essa história. A narrativa é dolorosa. A escrita é primorosa, sofisticada sem ser pedante. O uso da segunda pessoa do discurso, ou seja, o uso do "você" como voz narrativa, me incomoda em qualquer texto, e neste livro achei desnecessário, mas ainda assim a história é tão poderosa e bem contada que superei meu incômodo. Provavelmente é o melhor livro nacional contemporâneo (escrito no séc. XXI) que já li.

Recomendo a quem aprecia literatura brasileira, procura uma narrativa potente e tem coragem de ler verdades duras.

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Premiado por um motivo.

Diante das novas polêmicas envolvendo esse livro, decidi aprovar a disponibilização das cópias de avaliação para, enfim, ler.

É uma obra bem escrita e que desperta reflexões importantes, uma leitura que nos ajuda a trabalhar nosso senso crítico, algo que, hoje em dia, anda em falta.

Excelente leitura, entendo por que desagrada tanto aos conservadores.

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os temas abordados como o racismo estrutural, identidade, preconceito, violência doméstica, paternidade, etc e empatia.

É um livro muito pesado. É narrado pelo filho, mas o protagonista é o pai. É uma história que dói e te faz pensar muito.

"É necessário preservar o avesso, você me disse. Preservar aquilo que ninguém vê. Porque não demora muito e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina nosso modo de estar no mundo. E por mais que sua vida seja medida pela cor, por mais que suas atitudes e modos de viver estejam sob esse domínio, você, de alguma forma, tem de preservar algo que não se encaixa nisso, entende? Pois entre músculos, órgãos e veias existe um lugar só seu, isolado e único. E é nesse lugar que estão os afetos. E são esses afetos que nos mantêm vivos."

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Um livro que trata de racismo, problemas familiares e foi um livro ridicularizado no sul por falar de palavras de baixo calão e sexo.
Sendo que tem muito mais coisas envolvidas e somente isso foi abordado pra quererem que um livro seja banido.

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O avesso da pele carrega as memórias de Pedro sobre seu falecido pai, através dos objetos remanescentes, a partir dos quais tenta juntar os pedaços para criar uma narrativa que o faça entender sua identidade e sua própria história.
Embora a busca pela identidade seja a de Pedro, o narrador reconta a história de seus pais, mas através da própria perspectiva e leitura que faz, com tudo que juntou pelo caminho até a morte de seu pai.

O pai de Pedro era professor de literatura, negro, no sul do Brasil, onde episódios de racismo são descritos no livro, e que, embora fictícios, poderiam muito bem ser reais, e, infelizmente, sabemos que ocorrem. Fatos são apenas fatos, ainda que eivados de injustiça, até que tenha um olhar que nos guie. E é sob o olhar de Pedro que estes fatos, mesmo distante para muitos leitores, se transformam em tangíveis, e os atingem de forma dilacerante.

Esta é uma leitura sensível, onde vários problemas são denunciados, e gravitam em torno do mais contundente na história toda: o racismo. Há toda a grave situação em que se encontra o sistema de ensino público e seu sucateamento, as relações problemáticas das famílias, e até questões de gênero, que são abordados numa escrita impecável, onde dor, poesia e tristeza se encontram, tornando tudo tão denso e fluido simultaneamente.

Muitas reflexões nos vêm após essa leitura, e deixa no título a sugestão de que a cor da pele é sempre a primeira barreira das pessoas negras, para que consigam vê-las além da cor. Depois de todos os prejulgamentos feitos, quem é aquela pessoa de verdade, muitas vezes só vêm a ser considerado quando já se é tarde demais. O avesso da pele traduz essa maldição, lançando nosso olhar para o outro lado, para o que há depois da pele, o avesso da pele.

Um favorito do ano.

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