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Os meninos de Nápoles

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No começo escolhi essa leitura pela minha ligação com a Itália, mas depois de pesquisar um pouco sobre o autor, algo a mais surgiu. Saviano, ao escrever Gomorra, foi jurado de morte pela máfia italiana pelo que estava retratando, então me interessei muito pelo que ele tinha a dizer. Inclusive no começo de Os Meninos de Nápoles ele faz uma nota deixando bem claro que personagens e locais ali retratados não tem nenhuma ligação com pessoas, situações ou estabelecimentos que existem ou existiram na vida real. Saviano atualmente vive sob proteção da policia italiana... Ficou curioso? Eu também fiquei.

Pois bem, tenho certeza de que, ao começar a leitura, você vai estranhar a escrita de Saviano. Isso acontece principalmente pelo autor ter escrito grande maioria dos diálogos do livro em napolitano (dialeto do sul da Itália), e como os protagonistas são adolescentes, obviamente os palavrões e gírias estão presentes também. A tradução, preparação e revisão tentou balancear isso tudo (com maestria, diria eu), mas ainda assim não estamos acostumados com essa linguagem informal, e isso incomoda bastante o leitor.

Em Os Meninos de Nápoles as gangues formadas por adolescentes ou mesmo crianças, são chamadas de 'paranzas'. Essas paranzas dividem o seu tempo entre as redes sociais e video-games com as brigas de rua. Com as armas e celulares sempre em suas mãos, estão prontos para a ação, sem se importar com a violência ou os limites socialmente impostos que transpõem com facilidade. O'Marajá (líder) Nicolas, como esperado, vive quebrando as regras e sente imenso desgosto pelo pai e suas tentativas de botar o garoto na linha, já que ele significa tudo que Nicolas gostaria de extinguir da face da terra.

A violência, o medo e a admiração por Mussolini e Maquiavel, só escancaram o fato de que os garotos queriam poder, sem se importar como conseguiriam chegar lá, inclusive compartilhando toda essa vida de gangue no Facebook, por exemplo. A visão infantil dos garotos da paranza chega a incomodar, e eles parecem só tomar algum tipo de consciência no final do livro, onde as consequências dos seus atos finalmente começam a pesar.

No fim, Saviano nos faz pensar sobre nossos próprios atos dentro e fora da internet, mas definitivamente essa não é uma leitura fácil. Seja pela linguagem, pelo conteúdo violento ou pelo tema super atual, acredito que vale a pena enfrentar esses obstáculos para terminar o livro. É uma daquelas obras que vai te deixar pensando e, mesmo irritado, querendo ler ainda mais sobre tudo aquilo.

Resenha: Jéssica Bett

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"Os Meninos de Nápoles" é o mais novo lançamento do escritor e jornalista italiano Roberto Saviano, e o primeiro romance do autor que leio. Confesso que, além da premissa do livro, quis realizar a leitura também pela história do próprio autor, que ao publicar Gomorra foi jurado de morte pela máfia italiana que retratou no livro. Como disse o autor em entrevista: "A Itália é um país cruel. Não permite que se retrate sua realidade”. Vivendo sob a proteção da polícia italiana, Saviano continua escrevendo e fazendo retratos verdadeiramente crués da Itália mafiosa.

"Olhem dentro de vocês. Olhem profundamente, mas, se não sentirem vergonha, não estarão olhando de verdade."

Ao começar essa leitura me deparei com um estilo de escrita que me causou certa estranheza, uma vez que o autor optou por escrever os diálogos como são na realidade entre os adolescentes de Nápoles dos tempos atuais. Aqui o autor nos apresenta a gangues formadas por jovens, alguns ainda na infância, denominadas "paranzas". Esses jovens, iniciantes na prática mas já bem informados sobre o mundo do crime, dividem o tempo entre as redes sociais e as ruas, com suas motonetas e armas a postos, preparados para tudo e dispostos a ir além para atingir seus objetivos. Eles, com pouca idade e tamanho, querem ser os maiores.

Esse é um livro bem violento, que me impactou e, ao mesmo tempo em que queria abandonar a leitura, tinha curiosidade sobre o que mais aconteceria ali. É uma trama longa, que acompanha um grupo de garotos ostentando armas e forçando atitudes violentas, machistas, impetuosas. É inacreditável que Saviano esteja retratando uma realidade, algo que está acontecendo agora nas ruas de Nápoles, mas é exatamente isso.

"Em Nápoles não existem fases de crescimento: já se nasce na realidade, dentro dela, você não descobre aos poucos."

Não foi uma leitura fácil, mas, como eu disse, despertou minha curiosidade. Agora quero conhecer os outros livros do autor e os motivos que o levaram a precisar de escolta policial 24hrs por dia para proteger sua integridade física.

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