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A máquina do ódio

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O jornalismo está sob ameaça. E talvez de fato sempre esteve. Ainda mais aquele que é compromissado com o público no exercício de trazer a verdade. Ainda mais em tempos de governos totalitários mundo a fora que, para se manter no poder, utilizam do artificio das fake news.

Mas apesar do cenário temerário a imprensa segue viva e, aos trancos e barrancos, existem profissionais que permanecem remando contra a maré de oposição, entregando matérias de cunho investigativo que trazem em si fatos que muitos não opositores não gostariam que viessem à tona. E nesta seara, sem sombra de dúvida, Patrícia Campos Mello é uma das maiores expoentes do jornalismo.

Mas muito se engana quem acha que a jornalista e escritora tenha conquistado reconhecimento na profissão. Na ativa desde 2006, Campos Mello cobriu eventos importantes como o atentado de 11 de setembro, a Guerra do Afeganistão, as eleições norte-americanas, a crise econômica de 2008, entre outros eventos históricos, que acabaram por lhe render diversas premiações.

Sua primeira incursão no universo da escrita literária foi através da obra “Índia – da miséria a potência” em 2008. Nove anos mais tarde foi a vez de “Lua de mel em Kobane”, obra biográfica sobre um casal de sírios sobrevivendo do cerco do Estado Islâmico do Iraque. Agora em 2020 é a vez de “A máquina do ódio”. Lançado pela Companhia das Letras, a autora faz um apanhado histórico de como as manifestações de ódio e as fakes news disseminados pelas redes intervém diretamente em democracias pelo globo.

Partindo de uma premissa pessoal, Campos Mello utiliza de sua experiência vivida em 2018, durante as eleições presidenciais, para a partir daí realizar um estudo mais aprofundado acerca dos mecanismos que movem as redes sociais de hoje. Para quem não se lembra, a jornalista foi vítima de perseguição e agressões devido a publicação de uma matéria sobre crimes eleitorais cometidos durante a campanha de Jair Bolsonaro, que resultaria em sua eleição.

Com ares de thriller de investigação, a jornalista conta em detalhes a investigação sobre disparos ilegais no WhatsApp, contra o PT e a favor de Bolsonaro, contratados por empresários que resultariam na matéria publicada na Folha de São Paulo em 2018 . A mesma lhe geraria uma série de ataques midiáticos por trolls, seria bombardeada por fake news usando o seu nome e imagem como também sofreria agressões verbais perpetuadas por seus detratores, incluindo a família do atual presidente do Brasil.

Mas muito se engana que A máquina do ódio esteja na ativa somente no Brasil. Como Patrícia atesta ao longo do livro as engrenagens que a movem operaram nas eleições vitoriosas de governos populistas de direita nos EUA, Índia e Hungria.

Em tempos onde a liberdade de imprensa segue ameaçada, obras como “A máquina de ódio” são autênticos manifestos em prol do compromisso com a verdade no meio jornalístico. Doa a quem doer.

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231 páginas para entender tecnopopulismo e o escândalo de marketing do governo Bolsonaro, assim eu descreveria o brilhante livro de Patrícia Campos Mello. Jornalista premiada com 25 anos de carreira e diversas matérias virais da Folha de S.Paulo, A Máquina do Ódio é a recente oportunidade da autora mostrar a que veio: cobertura política internacional livre de vieses e o mais próxima da verdade.

Nas primeiras páginas, tive a oportunidade de conhecer a Patrícia bem diferente da icônica jornalista que todos os podcasts e jornais políticos conhecem: uma mãe, explicando ao seu filho pequeno que os xingamentos na internet sobre ela diziam mais sobre os outros que sobre ela. Assim, em dois ou três parágrafos, o leitor, seja qual for seu viés político, é desarmado e tudo que já ouviu sobre ela; fica ndo pronto para ouvir a versão da jornalista dos fatos.

Com visceralidade e coragem, a jornalista da Folha de S.Paulo nos conta como deixou de ser uma redatora renomada para tornar-se uma figura pública e alvo de todo o ódio da legião de seguidores do Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. Tudo isso após revelar o escândalo da campanha e disparo automático via WhatsApp de fake news e mensagens de pró-candidatura, que envolvia inúmeras agências de marketing digital e desonra à leis eleitorais brasileiras.

E é assim, com linguagem jornalística afiada, muitos dados que comprovam suas palavras e citações de autoridade que Patrícia dá uma verdadeira aula sobre fake news, tecnopopulismo e decadência do jornalismo frente a esse cenário. A brilhante jornalista nos ensina muitos verbetes políticos dentro de um contexto, sem cansar o leitor e com caráter educativo de alto nível.

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Um livro que me ajudou a entender ainda mais o cenário atual da política e como os jornalistas podem passar por situações cruéis, principalmente o cenário de uma jornalista mulher no Brasil. Interessantíssimo.

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"Tradicionalmente, regimes autoritários tentam controlar o fluxo de informação".

Para quem estuda História essa é uma frase bastante conhecida, afinal, a humanidade já viveu diversas experiências onde grupos hegemônicos e detentores do poder - desde as ditaduras militares na América Latina até o Nazifascismo europeu-, passaram a controlar toda e qualquer possibilidade de "ameaça" ao seu domínio.

Um dos sintomas mais característicos de cerceamento à liberdade de expressão é a tentativa de silenciamento da mídia profissional, que, no caso brasileiro, ganhou força no governo do Presidente Jair Bolsonaro. Esse movimento é característico de regimes autoritários e perigoso.

A jornalista Patrícia Campos Mello faz uma análise importante sobre as ameaças à liberdade de imprensa com o avanço das "fake news", dos governos de extrema-direita e a organização sistemática de disparos de mensagens nas redes sociais, traçando uma discussão muito importante sobre a perda de credibilidade, em especial no Brasil de Bolsonaro - mas também nos EUA de Trump e na Hungria de Orbán, entre outros - e das ameaças que jornalistas vêm sofrendo nos últimos anos.

Um ponto forte desse livro é a sua própria experiência como alvo de perseguição da família do presidente e de seus aliados, a forma misógina com que as mulheres jornalistas são tratadas e a grave "máquina do ódio" que figura nos bastidores desde o período eleitoral num governo que caminha a passos largos para uma teocracia fundamentalista evangélica e se gaba de linchamentos virtuais. Não é à toa também que o governo de Donald Trump aparece em boa parte do texto, conectado às ações de diversos líderes mundiais que seguem o mesmo caminho.

O Brasil, no atual contexto, mais parece uma distopia no estilo "The Handmaid's Tale", basta voltar aos livros de História da escola e ver que nada disso seria impossível de acontecer: o controle das massas através do fundamentalismo religioso, a história da escravidão e o racismo estrutural, a subjugação histórica da mulher e o controle dos meios de comunicação.

Além disso, é possível encontrar em determinados trechos uma crítica à própria classe dos jornalistas, que muitas vezes se presta a dar visibilidade ao que ela chama de "qualquer declaração vergonhosa e chocante" desses políticos "tecnopopulistas", bem como uma falta de aproximação com a parcela da população que se viu excluída diante da globalização e que está cansada dos discursos "de sempre".

Encontramos também muita informação sobre a redução das assinaturas de jornais, da fragilidade econômica dentro do setor e da diminuição de concessões às empresas, bem como o fechamento de diversos canais em locais onde a extrema-direita assume a política.

É um livro importante no atual contexto histórico, não apenas para refletir sobre os problemas brasileiros, mas para ligar o alerta do que está acontecendo ao redor do mundo e o que se pretende com a repressão à mídia profissional. É importante defendermos a liberdade de expressão e este livro esclarece o "porquê".

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