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Eu costumo brincar que tenho uma crise existencial por semana. Parece um exagero, eu sei, mas volta e meia me pego pensando sobre quem sou, sobre as escolhas que fiz e faço na minha vida e sobre os caminhos que me trouxeram até aqui…
E quando encontrei esse livro numa lista de lançamentos da que a Gisela me mandou, identifiquei-me imediatamente com o título porque essa é uma pergunta que tenho me feito com certa frequência.

Não sei vocês, mas eu cresci numa família humilde e conservadora do interior de Minas e fui ensinada desde de muito cedo sobre a divisão de papeis entre homens e mulheres e, embora essa divisão nunca tenha me parecido muito justa, eu não conhecia outra realidade. Claro que a revolução feminista tinha acontecido vários anos antes e, na maioria dos países (entre eles o Brasil), mulheres já tinham direito ao voto, já podiam dirigir, trabalhar, escolher seus parceiros e mais uma infinidade de coisas que parecem triviais, mas que um dia já foram motivo de luta. Mas as coisas funcionam em um outro ritmo no meio em que fui criada, então, o máximo que eu podia/sabia fazer, na época, era reclamar com o adulto responsável mais próximo e, na maioria das vezes receber uma reprimenda por estar questionando a ordem natural das coisas.

Como podem perceber, eu não fui educada pra ser feminista. Conceitos complexos como machismo e patriarcado simplesmente não fizeram parte do meu universo por muito tempo e, quando mais tarde eu passei a entender melhor do que se tratava, questionamentos como o que estampa a capa desse livro começaram a se assomar às minhas já citadas crises existenciais. Será que sou feminista? Tenho direito a esse título, mesmo nunca tendo participado de um protesto monumental? Eu sou tão feminista quanto às outras feministas? Existe um jeito certo de ser feminista? Sou uma boa feminista?

Confesso que comecei a leitura esperando encontrar respostas, torcendo pra que as páginas me ensinassem o jeito certo de ser feminista. Alma Guillermoprietro é uma jornalista que, durante muito tempo cobriu como pauta principal conflitos na America latina. Uma mulher de outra geração, que viveu em tempo real a segunda onda do feminismo. Alguém mais velha e mais politizada que eu, e que certamente estaria em posição de “validar” o meu feminismo, ou de me ensinar a ser feminista “do jeito certo”. Mas ela não faz isso em nenhum momento. O que ela faz nesse livro é levantar questões e contar um pouco da história do feminismo e das experiências dela própria com esse tema enquanto mulher latino americana e fruto de seu tempo.

“Tenho certeza das respostas? Não. Tenho certeza das perguntas.”

Em nenhum momento Alma se propõe a ditar as “regras de etiqueta” do feminismo. A leitura é rápida, fluida e em linguagem acessível. É mais uma reflexão sobre o tema do que qualquer outra coisa. É só uma mulher que tem uma bagagem incrível, uma escrita deliciosa e vivências interessantíssimas através das quais ela trás um olhar sobre o feminismo que não pretende ser novo, único ou definitivo.

Enquanto escrevia esta resenha, assisti a uma live com a autora, na qual ela conta que gosta de pensar no livro como uma ponte entre as feministas da geração dela e as feministas atuais e acho que ele cumpre esse papel. Até porque, embora as pautas mudem, a luta feminista continua sendo sobretudo por igualdade.

Alma Guillermoprietro não me trouxe as respostas que eu buscava quando iniciei a leitura, mas me trouxe perguntas excelentes que me deram a perspectiva de que existem muitas formas de ser feminista e de lutar por uma sociedade mais igualitária. Porque o feminismo, embora seja uma luta coletiva, é também a luta para que todas tenham o direito a sua individualidade. E talvez você faça parte dela sem nem perceber.

Numa entrevista, alguns anos atrás, Emma Watson (a eterna Hermione) disse:

“Se você defende a igualdade, então você é feminista. Desculpa te contar.”

E uma vez que você entende isso, você entende tudo.

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Alma não é militante, nem parece ter parado para fazer longas e profundas análises sociológicas sobre o patriarcado, o machismo e o feminismo. Ela é como a maioria das mulheres, arrisco dizer, que suporta humilhações diárias e obstáculos apenas por ser mulher. É exatamente essa a estrutura de seus ensaios, elaborados em uma sequência linear e crescente: o cotidiano, a vida de todos os dias e o questionamento do que realmente faria de uma mulher feminista. É necessário militar sempre, estar de acordo com todas as pautas e ler incansavelmente os grandes nomes para se considerar feminista? Ou a luta diária pela igualdade, as atitudes pela própria liberdade e de outras bastariam?

Em vários momentos, me identifiquei bastante com a autora. Também me questiono sobre meu “nível” de feminismo e se posso me considerar como parte do movimento. Eu ainda tenho condições de buscar na literatura as grandes teóricas sobre o assunto, como Simone de Beauvoir, bell hooks e Lélia Gonzales, mas nem todas têm em mãos as ferramentas necessárias para se instruírem. E todas nós sentimos a força do patriarcado esmagando nossas mentes a cada dia, bombardeando-nos com todo o tipo de munição: a ditadura da beleza, o ideal de maternidade, a obrigação da maternidade, a culpa por não atingir os modelos considerados aceitáveis. Além disso, não somos um grupo homogêneo, com uma única mente. Somos diversas, cada uma com seus sonhos e anseios, suas opiniões e seus talentos. Tentar nos (re)padronizar seria um desserviço.

Diante disso, vem o questionamento: é possível ser feminista em segundo plano, não fazendo do feminismo a prioridade de nossas vidas e nossos debates? Lembro-me da série de tirinhas que saiu há algum tempo no Instagram, em que várias desenhistas mostravam o quanto estavam cansadas de responder perguntas machistas de “como conciliar carreira e família”, algo que acontece em todas as profissões e que atinge apenas mulheres. Obrigar, ou esperar, que uma mulher faça do feminismo seu assunto prioritário, digamos, em entrevistas, discursos, livros e artes, por exemplo, não seria também anular sua complexidade enquanto indivíduo?

Não posso dizer que concordo com tudo o que Alma escreveu, o que foi, de certa forma, libertador. Ter consciência dessa divergência de pensamentos e perceber o quanto somos plurais e que isso é bom, acalmou um pouco aquela minha angústia.

O patriarcado encarrega as mulheres de adestrarem as meninas e faz com que carreguemos nossas correntes com orgulho, como diz a autora. Por isso mesmo, precisamos ter empatia umas com as outras e não substituir um julgamento pelo outro. Cada uma está em uma situação e lutando como pode. Ninguém fica aprisionado por vontade própria.

Por isso, recomendo esse livro a todas as mulheres, das que tem forças e condições para fazer da militância as suas vidas, às que lutam diariamente para não enlouquecer e sucumbir. Abraço a todas!

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"O mundo já mudou. As mulheres já mudaram o mundo. Chegou a hora do próximo capítulo".
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📖 Alma Guillermoprieto dedicou grande parte de sua carreira a cobrir conflitos e movimentos sociais por toda a América Latina. Ao longo de sua trajetória retratou em reportagens a história de mulheres comuns, sobreviventes dos mais diversos tipos de violência. Neste livro, ela reflete sobre sua própria posição como mulher e se questiona: Será que sou feminista?
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📖 Nesta obra, a jornalista mexicana faz uma reflexão sobre a importância do feminismo na nossa sociedade e os avanços conquistados recentemente. A autora relembra algumas formas de opressão sofridas pelas mulheres ao longo da história, como os pés de de lótus, e como o machismo ainda pode ser observado em diversas esferas, como a arte, a literatura, a publicidade e a música. É bastante chocante saber que as mulheres tiveram direito de sair sozinhas nas ruas na Arábia Saudita somente em 2018, isso em pleno século XXI. O livro apresenta brevemente a história de mulheres fortes que morreram lutando pelos seus ideias, como Estger Chávez. "Será que sou feminista?" é um manifesto que reflete sobre as diversas formas de feminismo. A leitura é bastante rápida e fluída, mas a intensidade de cada página fica, sem dúvida, registrada no leitor.
Por @varlene.santos ⠀
⚠️ Gatilho: Violência contra a mulher

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Será Que Sou Feminista? é um relato reflexivo da jornalista Alma Guillermoprieto acerca do movimento feminista, passando por reflexões sobre feminismo em face de outros movimentos sociais, de situações sociais encontradas na América Latina e da história de grandes ativistas do feminismo.
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Para quem não sabe eu estudo feminismo já há alguns anos e quando peguei esse livro pela proposta reflexiva dele logo imaginei ser um livro acerca do pensamento feminista, mas na verdade ele se trata de um manifesto da autora acerca da militância feminista.
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Esse não é um livro que vai responder a pergunta se você é ou não feminista, pois ele não discute a filosofia feminista, mas como hoje se faz a luta do feminismo. Durante a leitura encontrei muitos pontos de convergência com a autora, principalmente por algumas reflexões acerca das ativistas feministas e como o feminismo pode e deve ser interligado a outros movimentos sociais, tais como as lutas de classe. Porém, em outros pontos acho que faltou uma maior discussão, por exemplo, sobre o ativismo nas redes sociais.
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O ponto alto do livro, com certeza, são as ativistas do feminismo que a autora cita, entre elas está a vereadora carioca, Mariele Franco que foi assassinada há pouco mais de dois anos atrás. Assim como a visão sobre o governo desastroso que temos hoje no país. Confesso que esse foi um livro que me fez pensar bastante e discordar muito e isso é bom.
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Enfim, talvez não seja um livro para quem quer começar a ler sobre feminismo, mas para quem já leu e entende mais sobre o movimento.

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Não costumo comparar livros, mas esse livro será uma leitura complementar e muito semelhante a Um Teto Todo Seu, de Virginia Woolf. E esse é um grande elogio ao ensaio de 120 páginas de Alma Guillermoprieto, que tem o grande diferencial de trazer um viés que só as mulheres latinas possuem. Com alusões a Simone de Beauvoir e outras importantes feministas, a autora retrata porque a luta feminista é difícil, porém necessária. Em um texto curto, o leitor certamente terá consciência que as mulheres continuam presas em correntes quase invisíveis do sistema. Certamente uma leitura obrigatória também para os homens que pretendem ajudar as companheiras, amigas e familiares a chegar mais longe.

Com a icônica afirmação, “O pessoal é político”, a autora relembra momentos da história onde homens e mulheres levantaram a voz e fizeram revoluções que transformaram a vida privada feminina. Mudanças não apenas para as mulheres, mas para o ambiente familiar, o que consequentemente melhora todo o sistema político e social. Mostrando histórias de guerreiras latinas como Marielle Franco, Alma nos recorda que enquanto as mulheres não ocuparem todos os espaços em igualdade de gênero, a sociedade toda permanecerá numa política arcaica e com deficiências de direitos.

E não bastam os direitos. É necessário sentir o alívio quando é tirado dos ombros das feministas o peso de ser considerada bruxa ou louca. Ressaltando o posicionamento de Beauvoir de que os homens vêem mulheres como objetos, a narrativa traz um tom de protesto sobre todas as imposições de estado físico, mental e civil que deve ter uma cidadã comum.

“Como conciliar o desejo de sermos mulheres fisicamente livres com o desejo de sermos desejadas?”
Passando por temas como pílulas anticoncepcionais, o estereótipo contido nas novelas latinas e feminicídio, Alma mostra que ser mulher na América Latina é uma luta diária e nós devemos lutar juntas para sobrevivermos.

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O livro Será que sou feminista? De Alma Guillermoprieto é um livro que traz questões e debates muito importantes. A autora — uma jornalista que dedicou parte de sua carreira a cobrir conflitos e movimentos sociais por toda a América Latina —, neste presente ensaio, mostra as facetas da maior revolução que teve início há menos de trezentos anos atrás.

Alma Guillermoprieto, introduz sua jornada pela revolução, no apontamento dos grandes saltos impulsionados pelas feministas que lutaram, pensaram, debateram e escreveram livros a favor da luta pela liberdade das mulheres. Durante a tragetória do ensaio, a autora, percorre obras de Andrea Dworkin, Germaine Greer e Simone de Beauvoir, feministas que definiram o machismo, exprimiram como surgiram os códigos machistas e a sociedade patriarcal, e acusaram, de acordo com ela, como é absolutamente inaceitável de uma perspectiva moral e prática que continuemos a viver num universo patriarcal.

A jornalista explora a história do anticoncepcional e sua grande mudança no mundo moderno pois esse método — apesar de algumas problemáticas —, deu a possibilidade às mulheres de escolherem carreiras e integrarem em massa o mercado de trabalho e principalmente decidirem sozinhas quando ter filhos.

Será que sou feminista? Não aborda só as histórias das mulheres que ajudaram a crescer o movimento e a revolução, ele também conta relatos de mulheres que vivem sob o farol da violência criada pela cultura do machismo que as impedem de ter acesso a educação e ao controle de natalidade e que também as obrigam a muito cedo aceitar um marido no qual não desejam. Alma aponta que é necessária a libertação das mulheres, mas que também é necessária a libertação dos homens dos mitos, terrores, obrigações estúpidas que os oprimem nesta cultura.

“O machismo é uma doença que se sofre no nível pessoal: um indivíduo deformado, deturpado pelo mal, exercendo violência contra outros seres que têm um aparelho reprodutivo diverso do seu. Outra coisa é o patriarcado, um sistema completo onipresente, inescapável no mundo inteiro, paralelo ao sistemas econômicos e de governo do mundo e a qualquer estrutura de poder, dos quais é também fundamento.”

Ao longo da obra podemos ver que é posto sob debate o machismo e patriarcado, no entanto, a escritora não aponta só esta questão. Ela demonstra a partir de exemplos, o quanto o Estado é falho em assumir a obrigação formal de proteger a vida e a integridade de suas cidadãs. Estado esse que, se garantisse o julgamento dos crimes de gênero, acarretaria na diminuição do mesmo.

Por fim, a autora dá nome as grandes mulheres que inspiraram a luta contra a violência. Mulheres como Marielle Franco, María Elena Moyano, Esther Chávez e muitas outras.

Estendo-me na resenha pois há muito o que dizer sobre Será que sou feminista? Eu indico a todas lerem. Este é um livro incrível no qual gere grandes ensinamentos. Tudo o que eu disse ainda é pouco perto da amplitude dos assuntos abordados por ela. E acontece que, ao fim do livro, você leitora, pode sim, encontrar resposta para muitas de suas perguntas, apesar de que Alma Guillermoprieto as lança como dúvidas.

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Será que sou feminista?
📚 Editora @editorazahar
📕 120 páginas
👩🏽 Autora Alma Guillermoprieto

🔹Escrito por uma das principais jornalistas da América Latina, um manifesto corajoso, livre de doutrinas, para que possamos cada vez mais pensar (e viver) o feminismo em toda a sua diversidade.

🔹Alma Guillermoprieto dedicou grande parte de sua carreira a cobrir conflitos e movimentos sociais por toda a América Latina. Ao longo de sua trajetória retratou em crônicas e reportagens a história de mulheres comuns, sobreviventes dos mais diversos tipos de violência.

🔹Neste livro, ela reflete sobre sua própria posição como mulher e se questiona: Será que sou feminista? Sem a pretensão de ter todas as respostas, ela relata suas memórias quando jovem na machista sociedade mexicana e suas referências feministas; relembra encontros com líderes e ativistas; expõe sua visão da estrutura machista, racista e homofóbica que assassinou Marielle Franco; e tece ainda considerações a respeito do movimento #MeToo.

🔹Ao mesmo tempo em que evoca experiências pessoais, Guillermoprieto faz uma releitura das lutas históricas das mulheres, destacando avanços tão significativos quanto a pílula anticoncepcional e o direito ao voto, sem nos deixar esquecer do caminho árido que ainda há pela frente.

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Anotei mentalmente tantas coisas para falar nessa resenha que estou realmente tendo dificuldade de saber por onde começar, mas acho que preciso afirmar, logo de inicio, que esse seria o livro que eu daria para todas as mulheres em minha vida, absolutamente todas. Esse não é um livro que eu possa sentar e fazer uma resenha linear sobre a trama porque ele nem ao menos tem uma: temos aqui um livro para ler e discutir cada uma das ideias que há nele. Nem eu mesma, que amei o que li, concordo com tudo que li nele, mas afirmo, com todas as letras que não é preciso você concordar com tudo para você entender a pergunta titulo e a responder também. Você só precisa ser mulher mesmo.

Vou situar um pouco como o livro nasceu: Alma Guillermoprieto é uma jornalista mexicana (que já morou no Brasil, preciso assinalar isso) que cobriu todos assuntos da America Latina. Mulher forte e intensa, com uma vasta experiência jornalisticica foi chamada para entrevistar Chimamanda Ngozi Adichie (a escritora que dispensa apresentações, claro). Alma leu todas obras de Chimamanda, acreditando estar fazendo seu papel e voltando sua conversa para os livros escritos pela outra mulher, mas, qual foi surpresa, ao receber diversas criticas sobre sua condução da conversa e a falta do feminismo durante a mesma. Alma demorou para saber o que estava acontecendo online e essa revolução sobre sua falta de engajamento no assunto feminino com uma autora deveras conhecida por seu engajamento com o movimento essencial para as mulheres. Alma poderia se revoltar com o linchamento que estava sofrendo, mas chegou a conclusão de que dúvida era tão válida que ela mesma se fez a pergunta: “Será que sou feminista?”. E assim temos esse livro que, na verdade, é uma especie de carta repleta de pensamentos com a resposta dessa pergunta. E, sinceramente, que livro maravilhoso.

O trecho acima está no livro e, junto com ele, a fotografia citada. É de extrema importância poder ligar a comparação que a autora fez a imagem e fica claramente ilustrada todas as suas perguntas.

Um dia, em uma loteria genética, eu recebi dois genes iguais, e, por isso, nasci mulher. Me identifico com o gênero que tenho, o que me faz uma mulher cis. Até ai, tudo sorte. O que vem depois disso não tem nada a ver com sorte: para poder votar, trabalhar, existir no mundo que estamos hoje em dia, milhares de mulheres em anos passados tiveram de lutar e abrir o caminho para que a minha falta de sorte com os genes me desse uma liberdade que emulasse a liberdade masculina – e digo só emular porque não sou iludida e não acredito que tenhamos a mesma liberdade que os homens. Em um mundo aonde o patriarcado é tão forte e vem de seculos de construção, parece claro que temos de lutar em dobro para termos o mesmo salário em uma multinacional que nos contrata ou sermos levadas à sério em momentos nos quais estamos falando sério. E não me deixe nem começar com as “cantadas” que todas mulheres já receberam no meio da rua em algum ponto de sua vida.

Falo tudo isso porque é isto que este livro nos provoca: uma desconstrução de nossas ideias para que possamos entender que precisamos do feminismo mesmo quando não acreditamos que estamos sendo feministas. Se escrevo aqui, se tenho uma voz em público, é porque o feminismo é necessário – e aqui precisamos deixar claro para quem confunde: feminismo não é a elevação do sexo feminismo a um degrau acima do masculino e sim a EQUIPARAÇÃO de poder dos dois. Não queremos ser especiais, não queremos mais: queremos ser iguais.

Como comecei falando, não há como se fazer uma critica a estrutura do texto ou das ideias que há nele e sim um momento de profunda analise sobre quem somos, o que aceitamos e como vemos nosso papel como mulher dentro de nossa sociedade. Há muito, muito tempo não lia nada sobre feminismo que me provocou e mexeu tanto comigo – acho que desde justamente “O segundo sexo”, de Simone de Beauvoir, obra citada no livro. Há muito sobre o que se esperam de uma mulher, mas há bem mais sobre o que nós mesmas esperamos de nós. E é isso que Alma faz muito bem: lembrando de sua tragetória e tudo que já fez (e fez como podia) para lutar por seu lugar e pelo feminismo, entendemos que essa batalha é lutada todos os dias, em diversas frente e situações.

Também já falei que nem tudo que li concordei, e foi justamente na parte que começa a se tornar mais atual, quando a autora fala sobre o movimento #MeToo. Movimento que nasceu por causa da indústria cinematográfica que ultrapassou as barreiras digitais, temos mais um grande exemplo de como as mulheres são sexualizadas e tratadas em diversas areas nas quais trabalham. Foi um movimento que toda nossa geração viu nascer e se expandir, e fazer com que livros de autoras como Chimamanda Ngozi Adichie se tornassem mais vendidos ao redor do mundo – e então chegamos ao começo de como este livro foi escrito: de um embate das expectativas de todas as pessoas que foram ver o painel e do que a autora realmente queria abordar naquele momento. Será que isto a faria não feminista?

A medida que vamos lendo e pensando em nossas próprias vidas e experiências, vamos também conhecendo os exemplos reais e concretos que Alma teve em sua vida, que passam de Estger Chávez à Marielle Franco, mulheres fortes, muito fortes, que deixaram exemplos. Exemplos de luta, de coragem, de vida, de desconstruções que podemos aprender com. E é atraves desse sentimento de aprender através das outras que vamos sentindo a conversa se desenvolver, da autora para nós, do outro lado: quantas vezes procuramos defeitos em nós mesmas por uma sociedade, com padrões irreais, colocam em nós? Quantas vezes somos levadas a acreditar que sabem o que é melhor para nós mesmo que não seja o nosso desejo? Alma diz que nunca quis ter filhos, e admiro nisso nela: ela soube o que queria e se ateve a isso, mesmo que seja algo contra a maior parte da construção da imagem dada as mulheres em nossa sociedade.

Se você nunca leu nada sobre o feminismo e deseja começa, seja para ler e aprender o que quer e o que você não quer, eu indico “Será que sou feminista?” com toda força possível para você, porque você pode até terminar o livro sem saber responder a esta pergunta, mas, em alguma atitude sua do dia a dia, você se fará essa pergunta, e, inevitavelmente, um dia a resposta surgirá. E então saberemos qual será.

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Uma leitura rápida, sem academicismos; ideal para quem quer começar a pensar a temática e questiona a importância do posicionamento.

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Mais que um livro, uma aula. Muito bom para aprender um pouco sobre a situação da mulher pelo mundo. Além de que provoca muita reflexão no leitor. Mesmo a autora não sendo brasileira, fala sobre o Brasil e, passa uma visão muito real e crua do que temos por aqui. Recomendo demais pra quem quer aprender um pouco sobre o assunto e entender a luta feminina.

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Primeiro que já amei que o livro é do ponto de vista de uma mulher mexicana/latina. Já é uma mudança dos inúmeros livros feministas europeus e estadunidenses no mercado. O livro é sobre as muitas reflexões e questionamentos da Alma Guillermoprieto sobre suas próprias vivências como mulher e a situação geral das mulheres pelo mundo.

Outro detalhe bacana é que ela foca em mulheres da América Latina e fala muito até do Brasil, menciona Marielle Franco de um jeito tão lindo, fala de racismo, Lula, Dilma e um pouco do contexto político e social que levou a eleição de Jair Bolsonaro. É claro que também fala muito do próprio país, México, e é ótimo pra quem adora saber fatos históricos, sociais e políticos.

Alma fala sobre machismo de muitas formas, sobre a conquista que foi a invenção da pílula anticoncepcional, o direito a voto das mulheres, as estruturas patricarcais do mundo que colocaram as mulheres em uma posição difícil e subjulgada, fala sobre cultura do assédio e do estupro, feminicídio,sobre a diferença de classes, de religião e de nacionalidade.

É como ela coloca em um momento "Tenho certeza das resposta? Não. Tenho certeza das perguntas." E é isso que ela faz aqui, propõe reflexões sobre diversos comportamentos e situações pertinentes, não necessariamente sobre gênero, mas mostra que uma coisa está ligada a outra. E mostra várias fotos pra exemplificar do que está falando.

Me surpreendi muito que a autora conseguiu cobrir tantas temáticas importantes em poucas páginas. Ainda tem muito mais coisas que não mencionei. É uma leitura perfeita pra iniciantes em qualquer um dos temas citados porque a linguagem da Alma é direta, resume bem, é fácil de entender e pode levar quem lê a ficar curioso e pesquisar mais sobre o que ela fala.

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