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A palavra que resta

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Raimundo Gaudêncio aos 71 anos resolve aprender a ler e escrever para enfim ler uma carta que guarda há 50 anos! Carta que recebeu do Cícero, um amor de juventude. E o livro conta toda essa história tão linda de amor. Da saída do Raimundo de casa, sendo expulso, fugindo de casa e tendo a carta com sua companheira. Lindo o livro. Ameiiiiiii

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Tive que abandoná-lo em 65%, porém, devo confessar, minha vontade de abandono veio ainda mais cedo do que isso, porém segui na leitura pois: 1) esse era um livro que eu estava aguardando muito; 2) das avaliações que havia visto (e também pela indicação da incrível Socorro Acioli), era um livro avaliado muito positivamente. Mas não deu, não desceu.

De cara a primeira coisa que me incomodou no livro foi a construção narrativa do autor, que segue um padrão não-linear, indo e voltando no tempo toda hora (coisa que não me incomoda normalmente), mas unida à um padrão de escrita num estilo de fluxo de consciência (bem regado aos moldes de Virginia Woolf), que não cola, parece proposital, não-orgânico, e incomoda (no ponto de vista de leitor). Diversas vezes tive que parar, voltar, reler o que havia sido dito pra me entender, como leitor, em que momento temporal eu estava e (muitas das vezes) o que diabos estava acontecendo.

Além disso, não consigo recomendar um livro que, apesar de entender desde a sinopse que envolveria o sofrimento de jovens LGBTQ+, fica ancorado em fazer isso as custas de cenas de violência gratuita, pesada, sem escrúpulos. Pode-se até fazer um comentário sobre "ah, mas esse é o retrato da vida real, nunca é um mar de rosas", porém não creio que essa deveria ter sido a abordagem tomada pelo autor pra retratar o que deveria ser, afinal de contas, uma "história de amor" (aliás, eu comentei como a construção de romance simplesmente não existe? Até onde eu sei, só ter cenas de sexo não é bem um desenvolvimento afetivo pra se importar pelo casal). Existem diversos outros livros aí fora disponíveis que retratam muito bem a dificuldade de ser LGBTQ+ em um convívio familiar preconceituoso, sobre a desconstrução da homofobia interna, e que não seguem o rumo que o autor quis tomar.

Não recomendo!

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Eu estava ansioso demais pela leitura desse livro, quando li a sinopse do mesmo eu logo fiquei interessado por sua premissa que prometia entregar uma história intensa e dolorida. Não perdi tempo ao receber o livro, corri para conferir a história.

Ainda não conhecia a escrita do Stênio Gardel, mas eu gostei gostei bastante de sua escrita a história é muito fluída, eu fui lendo e simplesmente nem vi o tempo passar, inicialmente tive um pouco de estranhamento com a forma que ele escreve partes do livro, em alguns momentos os diálogos são sequenciais, então, não há uso de travessão ou aspas para indicar a mudança de fala entre os personagens, mas, depois de um tempo de leitura eu me acostumei e isso não me incomodou mais. O livro é narrado entre o presente de Raimundo e flashes de suas lembranças do passado.

Eu gostei bastante de Raimundo, ele é um personagem com muitos altos e baixos, ao mesmo tempo em que queria abraçar ele por tudo o que ele passa, também queria dar uns sacodes nele por atitudes péssimas que ele toma, mas isso só mostra que ninguém consegue ser 100% bom ou ruim. Mas se tem uma pessoa que não posso deixar de falar é Suzzanný, ainda que ela faça breves aparições durante todo o livro, sem dúvidas ela é uma personagem importante para a história, além de ser um cristal dilapidado, debochada que não leva desaforo para casa, como não amar uma personagem assim?

Eu realmente gostei da leitura desse livro, acompanhar a jornada de crescimento e autoconhecimento do protagonista foi muito interessante para mim, mas, ainda que tenha adorado a leitura eu preciso ressaltar que esse pode ser um livro pesado para quem é sensível a homofobia, transfobia, luto e violência física e psicológica. O que me fez gostar tanto do livro é que mesmo sendo tão dolorido ele é um retrato muito verdadeiro do que muitos homens ainda vivem hoje.

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Raimundo é um senhor com seus 70 anos que decide aprender a ler e a escrever. Isso já é algo que me pegou, pois quando eu vejo pessoas nessa idade que não são alfabetizadas eu tento de todas as formas pensar em todas as situações de vida que a impedirem de, ao menos, ter o ensino fundamental. Eu me lembro quando era criança de não entender muito bem índices de analfabetismo no Brasil e inconscientemente acompanhei isso mudando nos últimos 20 anos, então ao ver Raimundo saindo dessa estatística aos poucos, como leitora, é muito bom. Mas o livro não fala apenas sobre isso, o foco da história é o motivo que o levou a decidir frequentar a escola já na terceira idade. Há mais de 50 anos Raimundo guarda um carta escrita pelo amor de sua vida, Cícero, com quem vivia escondido um romance. Eu só posso pedir para vocês tentarem imaginar como era para os dois, ainda jovens, viver esse romance morando na "roça", com pais que se preocupam somente com seu pedaço de terra e mais nada. Raimundo foi proibido de ir a escola justamente para ajudar seu pai no plantio e ele passou muito tempo da infância invejando sua irmã mais nova pois para ela foi concedida a oportunidade de estudar. Então é claro que esse relacionamento ao ser descoberto, infelizmente, nunca daria certo.

A história não segue uma linha do tempo certinha, pois muitas lembranças do passado vem à tona. O que eu gostei foi que o autor não trabalhou essas linhas do tempo separadinhas, especificando todas a todo momento, mas ainda assim ele conseguiu fazer essa "mistura" de um jeito que ficou simples de entender. No presente Raimundo vive com uma travesti que conheceu de forma inusitada, mas que se tornou sua amiga para a vida. Ouso dizer que a única amiga que ele consegue manter para a vida inteira e amo demais quando ele brinca sobre ser dois velhos, um gay e uma travesti, andando por ai. Essa sensação de que após anos e anos se escondendo, mesmo longe de sua família, é reconfortante, afinal, quantas pessoas homossexuais não passam a vida se escondendo e ainda morrem escondidas? No passado os relatos de sua adolescência apaixonado por Cícero são roubados do leitor rapidamente com a descoberta da família de ambos logo nas primeiras páginas e o que aconteceu com ele é dolorido, real, causa revolta. Seu pai o agride diariamente acreditando que essa é a solução para o que ele acredita ser um problema e Raimundo nunca cedeu, até o fim ele nunca cedeu. O pior de tudo foi uma conversa com a mãe onde a vida dele mudou completamente. Esse momento eu perdi todas as esperanças na humanidade que ainda tinha. Acho que tento justificar essas atitudes ao pensar que isso aconteceu lá pelos anos 60 no interior do Brasil, mas não há justificativas mesmo que essa família seja de gerações e culturas diferentes, pois a ideia de um pai e uma mãe não aceitar o filho por algo tão supérflua quanto isso me deixa com raiva. Acho que em um ponto da história o autor tentou justificar as atitudes do pai. Não sei se a palavra certa é justificar, mas eu acabei tendo uma visão de que talvez o pai estava com medo por causa do passado, mas isso eu nunca vou saber.

Eu tô falando bastante, eu sei, mas eu disse que estava com dificuldade de falar sobre esse livro. Então acho que vou tentar ser mais direta agora. Bom, quando eu falei que esse romance é puro eu não menti, pois mesmo o livro não mostrando cenas românticas é evidente que esse casal só queria ser feliz, ficar juntos. Claro, o medo era maior que tudo e eles tinham consciência de que tudo poderia dar errado, mas ainda assim como Raimundo tentou lutar pelo que queria foi uma das coisas que eu mais gostei. O que é triste, pensando que por mais de 50 anos ele se prendeu a carta que Cícero lhe escreveu e que ele nunca deixou ninguém para ele. Em alguns momentos da história eu ficava com raiva só de pensar na possibilidade do autor não revelar essa carta e em outros eu torci para ele não revelar, pois seu conteúdo mudaria toda a minha percepção do livro. Então não vou contar se ele revelou ou não a carta, pois realmente acredito que você precisa ler esse livro e se emocionar com essa história.
É até estranho eu falar tão bem de um romance, né? Vocês sabem que eu não sou a maior fã do mundo, mas esse livro é incrível mesmo. A história vai tão além do romance, todas as lutas internas de Raimundo, a maneira como ele passa a ver sua família após tantos anos, a amizade que ele faz, os preconceitos que ele deixa para trás... Enfim, são pequenas coisas que enriquecem essa narrativa maravilhosa.

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TW: Homofobia, transfobia, violência física e psicológica, luto.

ESSE TEXTO CONTÉM MUITOS SPOILERS!!!!!!!!

Eu estava muito animado para ler "A palavra que resta", mas o livro não funcionou comigo. Gosto muito da premissa, admiro o jeito como o autor brinca com a estrutura narrativa, curto o desenvolvimento de determinadas cenas que se destacam pela força dos diálogos. Fora isso... É complicado.

Tive um problema com a estrutura do livro. Às vezes, funciona bem quando o texto não marca os diálogos com travessões e vai fundo no fluxo de pensamento. Às vezes, esse fluxo se confunde com a própria narrativa, o que se revelou um problema na cena em que Raimundo chama Suzzanný pelo nome morto. Não entendi se a intenção era mostrar como ele ainda carregava preconceitos, especialmente considerando que já era velho, ou se o texto sequer se preocupou em fazer essa crítica. Para além da problemática, essa intensidade de pensamentos deixou a leitura tanto cansativa quanto confusa para mim. Cansativa, porque variava entre trechos muito curtos e muito longos. Confusa, porque, em alguns momentos, me deixou perdido na linha temporal.

O que nos leva à segunda questão: não consegui me apegar ou me importar com os personagens. Talvez pelo estilo narrativo, que só funciona comigo em casos muito específicos (como em "O avesso da pele", que eu amo), ou porque não foram desenvolvidos o suficiente mesmo. Entendi desde o começo que Raimundo era gay e que tinha uma queda por Cícero. Não entendi por que eles gostavam tanto, já que as cenas descritas eram as de pegação, sem deixar espaço para um envolvimento mais profundo dos dois. Sim, conversavam. Sim, falavam sobre o futuro e o medo da família. Acontece que não vi o desenvolvimento desse amor.

Mas tudo bem. Como tentei ressaltar até aqui, exceto no trecho com spoiler, essas são coisas que só não funcionam comigo. Ainda conseguia ver o livro me prendendo, me convencendo a, quem sabe, dar uma segunda chance quando terminasse emocionado. Tem momentos genuinamente bons, apesar de faltar a emoção (e olha que consigo me identificar com eles). E aí chegamos na pior parte...

A transfobia. Enquanto eu esperava que o livro tivesse trechos homofóbicos, até pela própria sinopse (e isso é outro problemão à parte, do qual não vou falar. Simplesmente não estou disposto), mas a transfobia foi o que fez o livro me perder por completo. Isso acontece lá para os 70% da história, então segue o spoiler: em um flashback, é contada a história de quando Raimundo agrediu Suzzanný. Foi uma cena completamente aleatória e inesperada para mim. Os dois começaram do nada uma discussão, e então ele dá um murro na barriga dela e, depois de se debater sobre prestar ou não socorro, decide levá-la ao hospital. Fiquei triste com essa cena, pois não só não acrescenta em NADA à história, afinal Suzzanný mal recebe algum desenvolvimento além de "travesti promíscua que vende o corpo na rua", como reforça uma violência e meio que fica por isso mesmo. Como voltaram a ser amigos, eu não sei.

O final não teve impacto algum em mim e a carta ficou com deus kkk

"A palavra que resta" tinha tudo para ser um dos mais emocionantes e inesquecíveis livros que já li, mas se perde em sua estrutura, deixa de desenvolver personagens relevantes, reforça gratuitamente cenas de violência contra pessoas LGBTQIA e chega a um final meia-boca. Promete uma história sobre um amor que resistiu às barreiras do tempo, mas entrega um enredo no qual pessoas LGBTQIA são chicoteadas, espancadas e afogadas.

Definitivamente não recomendaria.

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