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A extinção das abelhas

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O fim do mundo não virá com um grande meteoro, um "armagedom", uma destruição apoteótica.
Ele está chegando todos os dias, em coisas que ignoramos: o aumento dos preços, a fome, o uso indeliberado de agrotóxicos, a violência, as doenças, as mudanças climáticas, a vida sem poder de escolha...
Esse livro é sobre isso: não apenas sobre o colapso do mundo, mas o colapso que enfrentamos dia a dia, inclusive o colapso das relações.
E o final nos mostra que sem elas, sem as relações entre as pessoas, não há como se safar. A salvação é coletiva.
Essa não é uma leitura nada fácil. A história não é linear e nos apresenta personagens complexas, permeadas por problemas e defeitos. Mas, ao mesmo tempo, traz uma realidade crua, que deixa aprendizados. Só não vê quem não quer.

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Intenso e atual "A Extinção das Abelhas" nos atinge em cheio ao contar a história de várias mulheres e pessoas em busca de uma vida digna e de maneiras melhores de se viver em uma sociedade que se encontra em decadência.

A autora, Natalia Borges Polesso, cria um futuro distpico, não muito distante que na verdade é nosso passado e presente; o retrato de um Brasil tomado por crises econômicas, sociais e sanitárias e, sua população sofrendo com a escassez, não apenas de insumos, mas também de relações coletivas sólidas.

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A Extinção das Abelhas é um livro estranho, que vai te virar do avesso com todas os debates que propões sobre as normatividades sobre poder, relacionamentos, democracia e o fim do mundo. É um romance curto sobre Regina, uma mulher quarentona que foi abandonada pela mãe e tornou-se órfã após o falecimento de seu pai. Apesar disso, a protagonista nunca está sozinha porque sempre tem mulheres incríveis em sua vida: tias, prima ou namoradas. Esse enaltecimento dos relacionamentos femininos acontece porque a autora, Natalia Borges Polesso, é vencedora do prêmio Jabuti e possui diversos romances reconhecidos pela crítica que exploram os relacionamentos homoafetivos femininos e sororidade.

Com seu caráter distópico, o livro acontece imediatamente antes e depois de um colapso mundial, cujo o maior indicador era a extinção das abelhas. O desaparecimento dos animais, seria como o sinal de efeito borboleta da devastação mundial. Nesse contexto, Regina vive sozinha na casa dos pais e vive as adversidades de um mundo pós-pandemia do Covid-19, mas com novos problemas a encarcerar as pessoas em dilemas pessoais e coletivos. Sabe-se que o livro acontece após 2020, mas não consegui ter clareza em a ano os eventos ocorrem e talvez esse tenha sido um recurso literário da autora, que é doutora em teoria da literatura.

O livro é dividido em três partes. Na primeira, no cenário pré-colapso, a narrativa divide os capítulos entre a vida da mãe desaparecida de Regina, Lupe e nos demais se atém à vida da filha. Ambas enfrentam dilemas e sentem-se fora dos eixos pré-estabelecidos para elas. Lupe foge com um itinerante para ser a Monga estrada à fora, enquanto Regina é diabética e camgirl. Na segunda parte, é apresentado o contexto no mundo colapsado onde ocorrerá a terceira parte, que une os laços e determina os finais de mãe e filha.

É a partir da segunda parte que as críticas sociais sobre a negligência acerca dos problemas ambientais que vivemos hoje, sobre a força da direita extremista e a LGBTfobia. Definitivamente, não é um livro leve, mas que certamente proporciona um novo ponto de vista sobre essas e outras questões. Como por exemplo, a possibilidade de Lupe escolher ter uma nova vida fora da maternidade e conhecer o mundo todo, sempre permitida aos homens e nunca às mulheres. É um livro bem escrito e pesado, mas necessário.

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Esse livro é lindo e dolorido!

É o segundo livro da Natália que leio e nossa, incrível o poder que ela tem sobre as palavras! O jeito que ela escreve é por si só uma experiência e essa história é incrível. A Regina é uma mulher que retrata muita gente nesse período pandemico e surreal que estamos vivendo. Eu amei!!

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Lá em 2019, nas manifestações pela educação, apareceram algumas pessoas com os cartazes "no começo de todo filme de desastre, tem cientistas sendo ignorados“. E o quanto estamos ignorando a ciência agora mesmo, ferrando com tudo, mas de consciência tranquila porque estamos separando o lixo reciclável?
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Natalia Borges Polesso escreveu um livro maravilhoso e desesperador, porque essa distopia tem tudo pra acontecer: Regina vive num Brasil onde tudo deu muito errado. Está cada dia mais difícil trabalhar e ganhar algum dinheiro, a fome, o desemprego e a violência explodiram. A questão ambiental do mundo está próxima ao colapso, e o indicador mais importante é a extinção das abelhas em função do uso indiscriminado de pesticidas e OGM's. Você já parou pra pensar as consequências da extinção das abelhas? Entre outros problemas, as plantas que dependem dessa polinização não se reproduzirão mais, e consequentemente a comida vai diminuir.
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Nesse mundo totalmente conturbado, é claro que tem muita gente totalmente alienada, como a minha xará Denise e sua esposa Eugênia, que não enxergam um palmo a frente do nariz e acham que o dinheiro resolve tudo. Regina, coitada, parece que é abandonada por todo mundo, e é difícil se manter lúcida e calma com tudo isso.
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Na segunda parte do livro a autora reuniu vários dados reais que apontam para esse cenário distópico. Os dados são atuais, mas parece que estamos dormindo e esperando o momento em que não vai dar mais pra fazer nada. Na ecologia usamos um termo que é "point of no return" - e a partir daí, amigos, não tem mais jeito.
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Que livro bem escrito, impactante, revoltante! Uma excelente leitura, pra gente sentar e avaliar os rumos do planeta, pra não lamentarmos depois.

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Natália faz um livro distópico, ambientado no interior do Rio Grande do Sul, onde só temos personagens mulheres. Casais mulheres. Onde o amor prevalece, a amizade e companheirismo. Um livro forte, onde o mundo está sendo colapsado constantemente. Atual, pugente! Amei muito.

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Resenha Sandra Martins
A narrativa conta a história da relação entre mãe e filha no meio de um fim de mundo numa cidade do interior do Rio Grande do Sul. Nesse ínterim, temos uma cidade enfrentando uma pandemia, lockdown, escassez de alimentos, preços altos, serviços básicos sendo cortados da população que se vê cada vez mais sem apoio e abandonada por um governo corrupto e insano (hello, Brasil 2021?).

As personagens principais são Guadalupe e Regina, mãe e filha que vivem um relacionamento de abandono, solidão e aventuras, numa busca por suas identidades. Lupe largou a família para seguir um circo e se transformar em Monga. Regina cresceu com o vazio da presença da mãe. Mas mesmo com todo seu caos pessoal, conseguiu fazer amizades, ter relacionamentos.

Regina é uma personagem extremamente realista (ou seria pessimista mesmo?) , depressiva e diabética, dependendo da insulina pra viver melhor.

Lupe é aquela pessoa que também tem um vazio. Esse vazio de saber onde pertence, pra onde se vai, quem se é.

E entre elas, temos um panorama de colapso seja ele do mundo, das relações pessoais ou da extinção das abelhas. E o que elas tem a ver com tudo? De acordo com pesquisas científicas, a humanidade vai acabar quando aa abelhas começarem a ser extintas, já que elas são responsáveis por cerca de 80% da polinização do planeta.

E justamente no sul do Brasil que elas tem esse episódio do desaparecimento. Pouco a pouco elas vão ficando cada vez mais escassas e isso acaba mexendo com o ecossistema do local e com seus moradores.

E isso é apenas uma parte de um livro que vai desde às referências às décadas de 80 e 90, passando pela crítica política, como a humanidade se relaciona até chegar a uma espécie de redenção ou recomeço.

Natália foi felicíssima ao nos entregar um livro tão vivo, tão real e tão atual. E que mexe com os pensamentos da gente, nos fazendo ver pontos pertinentes e causando um barulho bom que leva à reflexão.

Aproveita que o livro tá fresquinho nas livrarias e corre atrás. A leitura é muito bacana e tem um pique bom pra acompanhar.

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“O fim do mundo exigia decisões impossíveis. Decisões que estavam prontas e precisavam ser aceitas. Como a morte, a proibição ou o esquecimento. Naquele momento tão breve, houve travessia e prosseguimento. As pessoas limparam o cenário da despedida e foram descansar. A vida sempre segue seu fluxo.”⁣



A Extinção das Abelhas (@companhiadasletras, 2021) é o segundo romance de Natalia Borges Polesso, vencedora do prêmio Jabuti e internacionalmente conhecida com seu livro de contos Amora (que é sensacional).⁣

Como boa fã da autora, fui correndo ler o livro assim que tive a oportunidade. O título por si só já é instigante, e a sinopse me deixou com algumas pulgas atrás da orelha. Aqui conhecemos Regina, que resolve se tornar camgirl após ver um anúncio na internet, e assim começa a se expor para desconhecidos online para ganhar dinheiro e seguir sua vida no Brasil colapsado que a autora elaborou.⁣

Um Brasil que deveria ser distópico, mas é tão realista e possível que até arrepia. Colapso ambiental, econômico… a extinção das abelhas!!! Tão, mas tão atual e doloroso ler sobre esse país que a Natalia apresenta, e mais doloroso ainda por ter noção de que nos aproximamos cada vez mais depressa desse cenário aterrador. Se já não estamos vivendo nele.⁣

A Extinção das Abelhas é, como eu disse, um livro muitíssimo atual, que toca em feridas ainda abertas, como a pandemia e o nosso desgoverno genocida. É um soco no estômago, mesmo, e a autora faz muitas críticas pertinentes enquanto apresenta personagens bem interessantes que lutam pela sobrevivência em situações precárias.⁣

Não consegui me ligar muito a Regina, mas gostei de conhecê-la. E o livro é rapidinho de ler, com suas 312 páginas e uma narrativa envolvente. Não é meu favorito da Natalia, mas adorei realizar a leitura de mais um livro seu, e recomendo.

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