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"De Quinhentos, Uma Alma", de Ana Maria Machado, é uma narrativa cativante que explora o choque cultural e a miscigenação no Brasil colonial. A história acompanha a chegada dos primeiros colonizadores portugueses e as complexas relações entre europeus, indígenas e africanos. Com uma narrativa sensível e rica em detalhes históricos, a autora reflete sobre a formação da identidade brasileira, abordando temas como religião, poder e resistência. A obra destaca o impacto dessas interações culturais e oferece uma profunda análise das origens do Brasil, trazendo à tona questões sobre ancestralidade e pertencimento. Acredito que alguns capítulos podem ser trabalhados em sala de aula para pensar colonialidade - e decolonialidade, aproximando alunos de diversos níveis (ensino médio, gradução e até mesmo pós) para reflexões para além de textos acadêmicos. Recomendo.

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Segundo livro da Trilogia do Fim, “De cada Quinhentos uma Alma” nos traz a continuação das desventuras de Edgar Wilson, responsável por coletar carcaças de animais nas rodovias e encaminhar para o matadouro.
O que foi iniciado em “Enterre seus mortos”, primeiro livro da trilogia, é agora fortemente intensificado em um cenário de epidemia e apocalipse, e Edgar Wilson vai enfrentar dilemas que evidenciam cada vez mais a tênue divisa entre o bem e o mal. Juntamente com Bronco Gil ( personagem de outra obra da autora) e do ex-padre Tomaz, a jornada vai crescendo em assombro e violência ( nunca gratuita). A questão religiosa ainda vem dar um toque especial para a condução da estória.
Com um desfecho de tirar o fôlego, a narrativa intensa nos deixa ansiando pelo terceiro volume, recém publicado pela Companhia das Letras e que pretendo devorar em breve.

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A “Trilogia do Fim” de Ana Paula Maia é uma exploração profunda das formas de brutalização do ser humano diante de um mundo que, aos poucos, chega ao seu fim. Com foco nas nossas relações com os animais, seja através da exploração pela morte ou pelo espetáculo, Ana Paula inverte nosso olhar e perspectiva, fazendo-nos encarar que a violência mais selvagem é o cotidiano de uma realidade precária e desumanizante. Entre cadáveres e profetas do apocalipse, a “Trilogia do Fim” de Ana Paula Maia é uma das reflexões mais profundas sobre o que é viver no apocalipse do nosso dia a dia.

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"Edgar Wilson está sempre a um passo atrás da morte, como se ela não pudesse alcançá-lo, mas dessa vez ele chegou antes e ainda assim não pôde evitá-la. Mesmo vivo, sente-se tocado pela morte todos os dias".
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📖 Edgar Wilson trabalha recolhendo animais mortos. Ele é responsável por levar as carcaças até um grande depósito onde um triturador dizima os despojos. Contudo, quando o país entra em colapso e começa a enfrentar situações cada vez mais inusitadas, ele acaba usando seu conhecimento para tentar dar sentido ao caos e encontrar uma forma de sobreviver à barbárie. Ao juntar-se a Bronco Gil e ao ex-padre Tomás, os três anti-heróis passam a rodar pelas estradas testemunhando a atração exercida pelo ocaso da realidade, desafiando tanto poderosos locais quanto instituições que não são bem o que eles imaginavam.
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🗨️ Gosto quando me surpreendo com uma história que tinha zero expectativas, e esse livro é um bom exemplo disso. Num mundo que vive em uma epidemia de uma doença altamente contagiosa e que as pessoas contaminadas precisam ficar em isolamento (acho que já vi essa situação antes kkk), a autora consegue criar personagens que não são exatamente os mocinhos, mas que tem um ideal, fazendo com que o público simpatize com eles, que acham que o fim do mundo é resultado dos escritos da Bíblia. Também é muito interessante as referências religiosas que aparecem durante a história, e no meu entendimento, mesmo uma pessoa que não é tão ligada a religião, não vai ficar incomodada com essas referências. Como a história é bem curta, você não percebe o tempo passar, pois a leitura fluí muito bem, mas acho que a história merecia ser um pouquinho maior.
Por @dangomesn
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📃 Ficha Técnica
🔹 Título: De cada quinhentos uma alma
🔹 Autora: Ana Paula Maia
🔹 Editora: Companhia das Letras
🔹 Ano: 2021
🔹 Número de páginas: 112 (Edição Física)
🔹 Avaliação: ⭐⭐⭐⭐
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“O caos é silencioso. Move-se insuspeito. Penetra pelas brechas ordinárias que ignoramos. Instala-se, e, assim como um organismo vivo, seu instinto é expandir-se, sulcando camada após camada até enraizar-se. Quando nos damos conta, ele é quem já dita as ordens e os próximos movimentos.”

Qual é a imagem do fim dos tempos? Bolas de fogo descendo do céu? Dilúvio? Nuvens de insetos devorando tudo? Pessoas matando uns aos outros ou se matando? Uma epidemia a vasto nível? E quem é realmente capaz de causar esse fim?

Difícil explicar de imediato aquilo que fogem ao comum. Edgar Wilson e Tomás viram um caso assim ao serem chamados para recolher corpos de ovelhas mortas e se depararem com um número absurdo de animais. Mas não só os bichos morriam sem explicação; as pessoas também, decorrente de uma epidemia que as obrigou a se isolarem umas das outras. O medo do desconhecido fez uns se apegassem à fé e outros questionarem a Deus, mas raros perguntaram sobre o papel do homem nisso. Algo ruim pairava no ar, mas de onde vinham tais forças malignas? Do sobrenatural? Do próprio ser humano?

Com sua escrita potente e visceral, Ana Paula Maia consegue mais do que prender o leitor à trama, propõe uma reflexão filosófica sobre a efemeridade da vida, nossas crenças espirituais e a eterna luta do bem contra o mal. Mesmo que mais fantasioso que seu antecessor (Enterre seus mortos), o livro mantém o pé na realidade ao falar sobre como as pessoas lidam com o desconhecido a ponto de tomar atitudes drásticas, assim como mostra como as autoridades ludibriam o povo sobre o que estão fazendo a respeito.

O livro me esbofeteou de uma maneira inesperada, tanto por viver em um período pandêmico quanto pelas reflexões propostas. Também fui apresentada a outro personagem da autora, Bronco Gil, cuja vida levanta debates pertinentes. E o final me deixou clamando pela sequência urgentemente.

Indico a quem gosta de suspense, terror e uma dose de distopia. Mas se fizermos paralelos com o que vivemos hoje, a ficção está mais próxima da realidade do que nunca, o que reforça ainda mais minha recomendação.

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Ana Paula Maia traz mais uma vez personagens que já conhecemos para uma história que dá continuidade a Enterre seus mortos e achei a experiência maravilhosa. O clima de fim do mundo ou de não saber o que de fato acontece com a história me deixou apreensivo pelo final e com expectativa para o desenrolar dos capítulos, já que alguma coisa está acontecendo com o tempo/espaço e ninguém sabe o que é. A escrita é rápida e envolvente como sempre e continua abordando temas como a vida e a morte de maneira complexa através dos pensamentos dos removedores de corpos. Não sabia que era uma trilogia até ter começado a ler o livro e já quero demais saber como será o final disso tudo.

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Resenha Sandra Martins
Resenha: de cada quinhentos uma alma.

Ou poderíamos dizer: a cada página, uma revelação. Assim pareceu para mim o novo livro de Ana Paula Maia, uma narrativa distópica que fala sobre o ser humano, sua relação com a morte e o fim do mundo.

“A cada quinhentos uma alma”, é o segundo livro da trilogia que começou com “Enterre seus mortos” e conta a história de três homens: Bronco Gil, Edgar e Tomás, que recolhem animais mortos e se deparam - cada um ao seu modo - com conflitos de poder, uma doença que mata aves voando no céu e uma epidemia que está desolando as cidades.

Ana Paula nos deu uma trama cheia de suspense e em nenhuma das passagens a violência é gratuita. Ou contrário, ela faz parte do desenrolar da história e da atmosfera de medo e estranheza que permeia a narrativa.

“Vem pelo ar também, não é mesmo? - Ainda é cedo para saber o que é isso.”

Além desses pontos, temos muitas detalhes que nos ligam a alguns assuntos, desde sua própria obra (Enterre seus mortos), passando pelas pragas do Egito, os filmes Bacurau e O fim dos dias e uma religiosidade muito forte.

As 112 páginas podem ser poucas mas são intensas e nos fazem ter uma leitura rápida e que prende (sou lenta pra ler e terminei ele em um dia), simplesmente pelo fato de tudo estar ligado e nos deixar curioses com o que vai vir em frente.

Essa foi minha segunda experiência com a escrita de Ana Paula Maia e continua me surpreendendo e fazendo querer ler mais.

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O apocalipse maia

Edgar Wilson está presente na literatura brasileira há mais de uma década. Personagem principal de Ana Paula Maia, anda por aí desde sua estreia em “Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos” em formato de folhetim no site da autora. No capítulo anterior da saga, o premiado “Enterre seus mortos”, Edgar Wilson andava recolhendo cadáveres de animais na beira da estrada para jogá-los num moedor de carne quando encontra o corpo de uma mulher enforcada numa árvore. Disposto a dar ao corpo um destino digno, acaba conhecendo Padre Tomás, com quem se embrenha numa seara de situações nas quais a esperança é um recurso pra lá de escasso.
Um sujeito violento, com um código moral e senso de fé próprios, Edgar Wilson começa “De cada quinhentos uma alma” no exato ponto onde terminou o livro anterior. Numa estrada onde um rebanho de ovelhas aparenta ter morrido de repente. É lá que reencontra Bronco Gil, personagem de olho de vidro que conhecera no matadouro do livro “De gados e homens” e que nesse meio tempo, pelo menos o tempo literário, trilhou seus próprios caminhos em “Assim na terra como embaixo da terra”, também premiado.

Embora a autora costume criar conexões entre suas histórias, sempre me pareceu possível ler seus livros em qualquer ordem, sem grande perda de entendimento. Com “De cada quinhentos uma alma”, o jogo mudou. Primeiro pelo óbvio motivo de ser a segunda parte da trilogia começada em “Enterre seus mortos”. Segundo porque há um bocado de referências a “De gados e homens” e “Assim na terra como embaixo da terra”, o que dá à história certo sentimento de conclusão de uma trama maior. Então, fica aqui a sugestão de começar pelos três anteriores.

Outra coisa que mudou foi a presença do sobrenatural na história. Edgar Wilson sempre sentiu que percebia algo que ninguém mais percebia, que algo maior se aproximava, o final de “De gado e homens” sendo um marco simbólico. No livro novo, porém, Ana Paula Maia parece disposta a dar um passo além na sua exposição do terror, talvez pelo recente trabalho de roteirista da série Desalma. Abelhas sumindo, bois se jogando de penhascos, humanos se jogando em abismos agora se somam a uma misteriosa pandemia varrendo a humanidade. Sim, esse é o livro de pandemia de Ana Paula Maia. Uma pandemia que aqui aparece na forma de um verdadeiro apocalipse bíblico, com direito a corpos de crianças possuídos e nuvens de gafanhoto varrendo os céus.
Talvez esse elemento possa causar estranhamento os leitores mais antigos, essa fronteira cruzada com os dois pés. Como sou escritor e leitor de literatura especulativa, a mim só pareceu diferente. Não é como se os elementos presentes no apocalipse de “De quinhentos uma alma” não estivessem todos presentes no Brasil atual para os que acreditam no além tanto quanto para os céticos – cultos religiosos, imposição da lei do mais forte, desastres ambientais, militares descontrolados. O que é uma nuvem a mais de gafanhotos no meio disso?

Vir na esteira de “Enterre seus mortos”, um livro com a autora no ápice do seu jogo, não foi tarefa fácil. Mas quem de nós não anda cansado nesse país virulento e desgovernado, não é mesmo? Embora tenha seus bons momentos e críticas, o ponto forte para mim foi poder ver três personagens marcantes da autora, três dos seus sobreviventes, reunidos no mesmo livro. Como na HQ Preacher, esses três homens brutos, com referências bíblicas na ponta da língua, têm um gosto de família disfuncional que nos leva a torcer por eles. E a querer saber como um apocalipse Maia termina, no fim das contas.

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