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Member Reviews

Sally Rooney é um fenômeno. Entre as autoras dos tempos atuais, ela definitivamente é um nome que se destaca. Já tendo escrito vários títulos, os seus 3 últimos livros chamaram bastante a atenção da crítica mundial, todos vendendo milhares de exemplares nos países aonde foram publicados: “Conversas entre amigos” (de 2017, está se tornando uma série de TV com Joe Alwyn e Jemima Clarke na Hulu), “Pessoas normais” (de 2019 foi o maior sucesso da autora, com também uma minissérie de muito sucesso de mesmo nome no streaming Hulu estrelado por Daisy Edgar-Jones e Paul Mescal) e agora temos “Belo mundo, onde você está”, livro da autora que foi publicado dia 7 de setembro em inglês e simultaneamente aqui no Brasil.

Sally realmente tem uma legião de fãs e os elogios que lhe são dados em todos lugares são merecidos: ela escreve de uma forma quase descritiva, sem se prender a narração e sendo absurdamente nua e crua sobre intimidade, anseios e desejos das pessoas recém-chegada a idade que podem ser considerados “adultos”, mesmo que eles não tenha essa maturidade. E é exatamente isso que vemos nesses 3 livros que citei acima e por isso fiz isto: todos três impõe este ar de realidade em uma leitura que pode ser até mesmo dolorosa, mas que nem sempre os personagens acompanham o desenvolvimento emocional e a maturidade que a vida que desejam requer deles. É por ai que temos o começo da receita da autora.

Em “Belo mundo, onde você está” temos 4 personagens principais e por eles que vou começar a falar, já como fica claro e óbvio que a trama do livro é a vida e somente a vida acontecendo. Durante alguns anos, através de passagens contadas pelos personagens e também de cartas entre Alice e Eileen, vamos descobrindo o que aconteceu com aquelas pessoas e como eles se encontram em suas vidas, as mudanças que aconteceram e o que esperam que irá acontecer. O escopo do livro não se resume a somente falar do romance de 2 casais e sim toca também em religião, política, o mundo no qual vivemos – é literalmente a vida destas pessoas, com suas opiniões e escolhas que acompanhamos.

Vou começar falando sobre Eileen. Na casa dos vinte e tantos anos, ela acabou de sair de um relacionamento de anos com Aiden, o qual parecia não acreditar que fosse o amor de sua vida e nem sequer estava tão apaixonada assim – mas que, claro, está vivendo dolorosamente aquele término. Eileen é uma personagem bastante insegura e vamos tendo vislumbres de como sua personalidade começou a ser moldada desde a infância através do seu relacionamento disfuncional com sua irmã Lola. A mãe das garotas parece demonstrar preferência por Lola e isso vai sendo confirmado por diversas passagens da narrativa, o que causa um afastamento entre as irmãs desde que entraram na adolescência: enquanto Lola é popular e bastante egoísta, Eileen é introvertida e parece não saber se comportar socialmente entre amigos – há uma passagem bastante “interessante” com Eileen sofrendo bullying na escola e Lola, em vez de defender a irmã, fala que nada daquilo teria acontecido se Eileen não fingisse ser maluca, que responde placidamente que não está fingindo: ela é introspectiva, pra dentro, fechada. Eileen parece só começar a se sentir mais ela mesma quando vai para a capital Dublin estudar e lá conhece Alice – outra personagem principal da história. E ainda criança, as irmãs conhecem o vizinho Simon – um outro personagem principal da história, e você já entendeu como Simon e Alice se conhecem.

Temos Simon, o vizinho que as irmãs Eileen e Lola conhecem ainda crianças – Eileen tem 10 anos quando o conhece, e ele tem 5 anos a mais. Claro que durante essa fase o contato entre eles é bastante distante, mas com o tempo, nasce uma certa proximidade que se transforma em amizade entre Eileen e Simon. Quando ela enfim vai para a faculdade estudar, ela também passa a visitar Simon em outras cidades da Europa aonde ele estava morando e o sexo casual entre os personagens continua até ela começar a namorar Aiden. Simon, em contrapartida, é um personagem que parece bastante estável, por assim falar, apesar de ser profundamente cretino em diversas passagens do livro. Confesso que eu não me apaixonei pelo personagem como pensei quando ele apareceu na trama, e sua capacidade de não se apegar e querer sempre deixar um certo ar de mistério no ar me incomodou diversas vezes – em uma carta altura da trama, Eileen reclama que não sabe quase nada sobre o que ele pensa e ele responde que ela está parecendo a ex da qual ele acabou de se separar, tudo em tom jocoso, mas mostra claramente que ele tem problemas de se abrir e de falar mais sobre si próprio, de aceitar a intimidade e de se manter aberto.

Então temos Alice, a amiga que Eileen faz na faculdade, e confesso que ela é minha personagem favorita de toda trama. Alice quer ser escritora e gosta do que faz, tudo isso ficando bastante claro para quem lê, tanto enquanto ela e sua melhor amiga estão na faculdade quanto depois, arrumando um emprego para poder continuar fazendo o que queria: escrever – mas existe aquela antiga frase do: “Cuidado com o deseja”, certo? Porque Alice não estava preparada para quando o sucesso batesse à sua porta, e quando isso acontece, ela é internada em uma clínica para cuidar de sua saúde mental. Ela simplesmente some da vida de Eileen, sem responder mais e-mails, chamadas e deletou as redes sociais sem avisar que estava indo para a clinica, tudo decorrente da grande exposição que sofreu (alias, uma grande parte das melhores quotes do livro, na minha opinião, são dela). O leitor sabe pouco sobre o passado de Alice, mas entende que ela é a amiga que realmente se faz presente para Eileen enquanto moram juntas antes e depois da faculdade. Alice se apaixona por pessoas e deixa isso claro, demonstrando a sua bissexualidade com naturalidade, o que é ótimo, e você entende que ela é uma pessoa com grande bagagem emocional, quase que um flerte a um comportamento depressivo, mas não posso afirmar porque nada sobre ela fica muito claro na trama do livro – que justamente abre com ela tendo um encontro com Felix. E então chegamos no último protagonista do livro.

Felix é o cara que está tendo o encontro com Alice no começo do livro, e, sinceramente, é difícil para mim falar sobre ele porque eu detestei o personagem. Eu realmente o detestei. Provocativo, inquieto e bastante questionador, Felix poderia ser uma pessoa diferente, mas algo o faz sempre esperar e tentar arrancar o pior dos outros por algum motivo que me fugiu a compreensão em basicamente todos seus arcos. Não entendo o que o leva a se envolver realmente com Alice salvo ser a vontade que ele tem de ser desejado por alguém, e também não entendo porque ele questiona tanto Eileen em certa altura da trama simplesmente para demonstrar poder sobre algo que só precisa existir na cabeça dele – mas, no final das contas, isso valeu a pena porque rende a melhor cena do livro: o “confronto” entre Alice e Eileen sobre a amizade delas, que é mesmo a passagem que me fez grudar os olhos nas páginas e não saber como me sentir.

Os relacionamentos românticos entre os personagens são complexos demais a ponto de me deixar confusa do motivo pelo qual acontecem (acho que a única que encontro motivos para ser apaixonada é Eileen), mas isso foge da minha experiência de vida e do que eu entendo sobre relacionamentos, o que me fazia tentar entender os personagens – e ai comecei a pensar individualmente sobre cada um, e quanto mais eu me questionava sobre Felix, mais eu me dei conta de algo: não era só ele que me deixava confusa sobre os motivos pelos quais agia assim. Eu consigo entender que eles são assim porque algumas pessoas parecem não saber ser quem são (aquela coisa de não se sentir bem em sua própria pele), mas alguns comportamentos nocivos parecem existir somente para mostrar que as pessoas são difíceis – e, no fundo, a gente não precisa aceitar alguém tendo um comportamento merda conosco para entendermos que as pessoas são confusas, instáveis e carregam dentro de si muito mais do que mostram pra gente. Se essa era a intenção da Sally, eu aplaudo, mas eu não acho que era essa e foi ai que o livro me perdeu, justo a medida que se aproximava mais e mais do fim: as pessoas são difíceis. E falhas. E complicadas. E complexas. Mas eu quero entender o motivo, pelo menos na literatura.

Eu tive um grande problema pensando no final desse livro e já fazem uns 5 dias que terminei minha leitura. Sempre que eu termino de ler algo, eu penso sobre, principalmente em livros como “Belo mundo, onde você está” que tratam simplesmente da vida. Gosto de analisar onde eu me identifico com as personagens, gosto de imaginar o que eu faria no lugar delas, gosto de ver as falhas e os acertos da história porque é tudo isso que faz com que sejamos quem somos: leitores apaixonados. Mas, a medida que eu pensava sobre o livro, mais a sensação de falta de profundidade nos personagens eu sentia, e isso é tão, mas tão contraditório, porque se você me perguntar se esse livro é profundo, eu vou te responder um sonoro: “SIM”, mas eu senti muita, mas muita falta de saber mais sobre as experiências dos personagens que aconteceram fora da narrativa e que levou todos até o começo da trama. Parece que há tanto sobre os personagens que eu não sei, que se você me perguntar o que aconteceu com eles depois da última página, eu não sei te falar porque eles simplesmente são quem são e eu não sei como me sinto sobre isso.

E dai se você, que lê esta resenha, me perguntar se eu gostei ou não do livro, eu vou ser sincera e dizer que: Eu não sei. Talvez eu diga que não sei se eu adorei, que não sei se o achei brilhante, talvez eu até diga que eu achei que poderia ser bem melhor ou talvez eu simplesmente diga que sim, eu gostei. Não é o livro marcante do ano pra mim, mas me tirou vários momentos de ter de marcar quotes imensas, e, ao mesmo tempo, não chegou no meu fundo, não me deu aquela dor de ter de deixar o livro de lado ao terminar a leitura. Eu ainda estou confusa sobre ele pra ser sincera, e talvez, daqui um ano, se você me perguntar o que eu achei de “Belo mundo, onde você está”, talvez eu te diga que o livro cresceu em mim – ou talvez eu tenha passado a detestá-lo. Talvez eu esteja justamente no mesmo lugar que os personagens da narrativa: ainda um tanto quanto perdida, acreditando que já sou “adulta” e capaz de tomar minhas decisões enquanto na verdade eu ainda me escondo das minhas responsabilidades e do peso das minhas escolhas – mas hey, não é isso que é ser adulto? A conferir.

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Peguei esse livro com o pé atrás, porque não gostei de Pessoas Normais, da mesma autora. Na verdade, esse aqui não foge da temática do primeiro: pessoas jovens com suas inseguranças, medos, coisas que dão errado na vida... Aparentemente Sally Rooney gosta de falar desses vazios emocionais e medo do futuro. Mas nesse caso, as pessoas não têm problemas psicológicos mais sérios que precisam de acompanhamento (não é brincadeira). São inseguranças saudáveis, comuns e totalmente contornáveis com uma conversa.

Duas amigas, Alice e Eileen, estão vivendo momentos bem diferentes: enquanto a primeira se tornou uma escritora badalada e milionária, Eileen está presa em um emprego que paga mal e é pouco reconhecida. Em comum, as duas vivem dilemas amorosos e uma saudade imensa uma da outra. Alice se mudou para uma cidade pequena e conheceu Felix pelo Tinder - confesso que não curti muito esse personagem, achei grosso e misógino. Eileen tomou um pé na bunda depois de um relacionamento de três anos, está com a auto estima baixa e não admite seu amor por um amigo de infância - torci muito por esse casal!

Como estão em cidades diferentes, muitos capítulos se desenvolvem por meio de e-mails entre as duas. Além das questões amorosas, elas falam também das pressões da vida adulta e do julgamento alheio, de meio ambiente e política, e da busca por esse "belo mundo", que não é tão fácil de alcançar. Será que ele existe? Gostei do livro, achei leve e gostosinho de ler.

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apesar de ser bem diferente dos outros 2 livros, na minha opinião, Sally Rooney, mais uma vez, fez o que ela faz de melhor:

nos ofereceu uma escrita crua, reflexiva, com personagens realistas, perdidos e atormentados por todos os diversos desafios do mundo contemporâneo. dinâmicas complicadas e falta de comunicação continuam sendo o centro de tudo, em uma história sem grandes Plot Twists e sim situações do cotidiano.

confesso que amo, e sigo querendo ler tudo o que ela lançar no futuro ❤

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Dessa autora, já havia tido contato em "Pessoas Normais", que não gostei muito. "Belo Mundo, onde você está" entrega as características positivas da autora. O modo franco de olhar as pessoas e os relacionamentos, a linguagem direta, pessoal e inventiva, a maneira madura e caótica de retratar a juventude sem resvalar à futilidade ou aos artifícios. Ela não foge muito do que já havia feito, embora alguns elementos se diferenciem. Então, se você busca os mesmos elementos dos outros livros, vai ser uma boa experiência.

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