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Sula

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Toni Morrisson sabe bem como tocar o leitor com suas histórias palpáveis e doloridas, bem como fazer suas protagonistas pretas brilharem a cada momento. Em Sula, não foi diferente. Temos duas mulheres em destaque em uma comunidade preta em Ohio, amigas de infância, mas levadas a lados opostos desse grupo social que vivem por motivos bem distintos.
Esse é uma história que trata bem de conflitos e de reconciliação, de dores e amores, de enfrentar as consequências das escolhas que fazemos em vida, especialmente quando se é uma mulher preta. É um livro incrivel para todes aqueles que querem ficção com uma boa dose de realidade.

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Minha primeira reação ao ler esse livro foi de estranhamento, pois o achei bem diferente de "Amada", o único romance de Toni Morrison que tinha lido até então e adorado. Com esse livro, Morrison mostra que ela é uma escritora de mão cheia (não que eu precisasse ser convencida), com um repertório imenso de enredos e personagens diferentes.
Em "Sula", nos deparamos com a cidade de Medallion, em Ohio. As pessoas negras moram no "Fundão", um pedaço de terra inóspito "entregue" a eles após o fim da escravidão. Conhecemos as histórias de várias figuras dessa cidade, desde Shadrack, que volta da Primeira Guerra Mundial traumatizado, até os antepassados de Nel e Sula, que estão no centro da história.
Não posso dizer que me identifiquei com Sula, pois ela é uma personagem complexa, com uma história de vida difícil e com seus defeitos e qualidades, mas ela é definitivamente uma protagonista interessante.
Esse livro conta com um elenco de personagens com histórias de origem variadas e personalidades contrastantes. É um livro incrível sobre pessoas vivendo em comunidade nessa cidadezinha e lidando com seus conflitos pessoais, sem ter como plano principal o racismo da época; afinal, nem toda história de ficção protagonizada por personagens negros precisa ser sobre seu sofrimento.
"Sula" também trata de outros temas interessantes como:
- liberdade sexual e opressão feminina
- amizade
- ancestralidade

Muito obrigada a Companhia das Letras por permitir que eu lesse esse arc!

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I liked this book, it was a very interesting, intriguing, and quick story to read.
For me, this book is about two things, 4 women and the city they lived in.
I think we follow a city in itself here but focus on our female characters.
They are completely different from each other but you can see strength in each of them differently.
I recommend this story, I think it's a good read if you want to immerse yourself in the life of this city and these women and learn from their mistakes and life experiences!

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Resenha Ana Luiza Poche

Lançado em 1973, o segundo romance de Toni Morrison chegou ao Brasil pela editora da Companhia das Letras com tradução de Débora Landsberg em 2021. E o que falar deste livro depois de todo impacto de “O olho mais azul”?
Sula é um livro denso, apesar de pequeno. Talvez para quem leia o resumo dele, ache os eventos da vida particular sonsos, mas posso garantir que Toni Morrison faz um brilhante estudo sobre a sociedade e do papel feminino e negro.
Como bem dito em seu discurso do nobel, a ficção nunca foi entretenimento a ela. E em Sula, esta filosofia se destaca mais uma vez. O retrato pintado de uma mulher que ousa ultrapassar limites e correr para sua liberdade pode chocar ao leitor, principalmente por esta mulher não querer ser “cômoda” ou mesmo “agradável”. Diferente de “O olho mais azul”, o sentimento que domina a narrativa é sufocante e de angústia, transbordado das dificuldades de mudanças nas vidas dos moradores do Fundão, que tem seus papéis sociais bem limitados, numa sociedade racializada e segregada.
Sula não é uma leitura simples e cômoda. A narrativa não perde tempo se explicando ou enfeitando para tornar a realidade das pessoas mais suave. A escrita de Toni não é isenta e ao mesmo tempo que nos narra, cutuca os leitores a fazerem os questionamentos importantes sobre culpa, segregação racial, pobreza e sexualidade que permeiam a vida das mulheres que marcam a trama: Sula, Nel, Eva e Helene.
Antes de recomendar, quero deixar um comentário sobre a tradução: mesmo com as perdas de não ler o original, acredito que o trabalho feito aqui foi bem alinhado e respeitoso. Gostei muito da escolha da tradutora em não tentar emular o vocabulário que a obra original tem.
Minha única orientação para leitura deste livro é entender que é uma obra não esperançosa, mas com grande potencial para aqueles que resolverem se aventurar.

Livro: Sula
Quem escreveu: Toni Morrison
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2021

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Sula é o segundo livro da Toni Morrison que leio e já posso dizer que ela nunca traz histórias leves, mesmo quando o enredo se mostra despretensioso. Comecei a ler Sula esperando me deparar com um enredo forte e que me fizesse refletir, e foi exatamente o que ocorreu.

A autora se preocupa em construir não somente as características dos personagens, como também o plano de fundo, o lugar, as peculiaridades do Fundão, bairro de Medalion, e como a sociedade se desenvolveu nele. Esse aspecto se desenvolve principalmente na primeira parte do livro, momento que vemos Sula e Nel se aproximarem.

De início me tocou muito a relação de amizade entre as duas. O companheirismo delas é puro, genuíno e do tipo que deixa cada uma delas ser livre para ser elas mesmas, contrariando as vivências de ambas nas suas respectivas famílias, seja a mais tradicional da Nel ou a disfuncional da Sula. Elas pareciam despertar o melhor uma da outra e cada interação só reforçava esse aspecto.

O livro é, principalmente, sobre mulheres e liberdade, os julgamentos morais que são vítimas por serem figuras femininas não comuns dentro do pensamento da sociedade da década de 20, do que se esperava (e ainda se espera) delas e as consequências de não viver de acordo com essas expectativas. Em três gerações da mesma família - Eva, Hanna e Sula - o machismo e preconceito encontram vítimas, embora elas não se dobrem frente ao pensamento alheio, em especial Sula. Ela parece não somente desprezar a opinião dos outros, ela enfrenta e provoca aqueles que a condenam.

Esse enfrentamento, muito presente na segunda parte do livro, onde Sula já é uma adulta, encontra seu oposto na antiga amiga Nel, e no lugar da interação compreensível, vem a oposição. Nesse contexto, Toni Morisson nos faz ver a dificuldade de se libertar das amarras sociais e da própria hipocrisia.

O amor materno é um dos temas presentes. Temos a maternidade guerreira, a que toma decisões difíceis (e polêmicas), a despreocupada, a que é despertada por questões externas... A contraposição entre elas é abordada durante todo o livro mesmo que em alguns momentos não seja diretamente. Para mim, foi reforçado o caráter de crítica social com base no papel da mulher na sociedade e me fazia ler sempre com uma sensação de injustiça ou de revolta ao notar como a construção social tende a nos obrigar a pôr os indivíduos em caixinhas onde somente se pode agir como o pré-determinado para eles.

Pela escrita forte, profunda e com temas necessários, Toni Morrison tem me ganhado a cada escrito seu que leio, principalmente quando sinto o desconforto de ver repetições de determinadas ações dos personagens no meu dia a dia. E é por isso que sempre vou ler e indicar suas obras.

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