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Sim

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Nós, leitores, sabemos o quão vasto é o mundo literário, e, muitas vezes, ficamos surpresos ao depararmos com autores que não conhecíamos, mas que tem um nome bastante forte nesse meio. Foi o que aconteceu quando Thomas Bernhard me surgiu com esse título (Sim), até certo ponto simples, mas que tem uma complexidade impressionante.

“Sim” é um mergulho profundo em águas revoltas que é a mente de nosso narrador. Pouco sabemos sobre as outras personagens, pois, tudo o que nos é passado são impressões e divagações que nosso protagonista tem em relação as outras pessoas e a sociedade. Levando-se isso como base, ficou fácil imaginar quais pessoas gostaria de ter como amigos, e quais afastaria sem dó.

A narrativa é no estilo fluxo de pensamentos, sem capítulos, sem ordem cronológica, ou até mesmo lógica(?). O narrador vai inserindo informações em um ritmo bastante acelerado e que, aparentemente, não estão interligadas, mas, ao passar das páginas, vai moldando uma teia que mostra, claramente, como funciona sua mente. E posso afirmar que é extremamente complexa. O autor conseguiu me fazer imaginar como funciona a mente de uma pessoa com um grau depressivo bem significativo, assim como essa mesma pessoa conseguiu superar essas fases complicadas.

“No que diz respeito à paralização do meu trabalho, esse fato só podia conduzir a uma depressão profunda em todo o meu ser, enfraquecendo-me de tal maneira a, em última instância, resultar na pior eclosão de minha enfermidade. Eu sempre dependera do todo, e, como esse todo de repente piorou, e foi piorando pouco a pouco, cada vez mais séria e pavorosamente, o resultado só podia ser o pior de todos os meus surtos doentios.” Posição 590

Confesso que, em alguns momentos (principalmente na parte final do livro), me peguei fazendo questionamentos bem cruéis: Até onde devemos ir para ajudarmos uma pessoa depressiva? Devemos continuar ajudando uma pessoa que diz não querer nossa ajuda? Devemos nos afastar de uma pessoa que, claramente, precisa de ajuda, só porque encerraram os assuntos em comum com ela? Isso me fez ter uma relação de amor e ódio com nosso narrador.

“Naturalmente, você fracassou em tudo o que fez na vida, que gosta tanto de chamar de existência. É uma pessoa absurda. Eu ainda a ouvi por algum tempo, depois não aguentei mais e me despedi. Lá fora, no meio da floresta, ainda repeti para mim mesmo em voz alta a última coisa que ela havia dito: Não me visite mais, me deixe só. A despeito de todas as minhas resistências, ative-me àquele seu desejo.” Posição 1227

Em relação a parte gráfica, não tenho ressalvas. A capa segue o padrão de outras obras do autor publicadas aqui no Brasil, e a parte interna é simples e agradável aos olhos. Não encontrei erros.

Finalizo a resenha indicando aos amantes de uma narrativa no estilo fluxo de pensamentos dotada de uma carga psicológica bastante significativa.

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