Esse livro esteve em minha lista de leitura desde o momento que ele foi lançado, como muitos outros eu fui empurrando e empurrando com a barriga, até que a Companhia das Letras disponibilizou ele mais uma vez para o seus parceiros e finalmente tomei vergonha na cara e peguei o livro para ler. Bom, na verdade peguei o audiobook para ouvir.

Achei interessante demais a forma como a história é construída, o autor constrói toda a narrativa a partir do final, que no caso é a morte de Henrique, o pai de Pedro, que é o narrador da história. Pedro narra os acontecimentos e vivências da sua vida e da vida de seus pais, Henrique e Martha e como esse eventos vividos por eles acabam por culminar no fatídico momento final de seu pai. Esse é um daqueles livros sobre jornadas o fim já foi entregue, só nos resta saber o que os personagens viveram para chegar onde chegaram, eu gosto bastante desse tipo de narrativa, porque ela sai do convencional em que realizamos a leitura querendo saber o que irá acontecer no final.

As vivências dos personagens mostram o racismo em diversas formas e possibilidades, seja como fetiche, como subserviência, das micro à macro agressões e não para por aí ainda tem outras formas de racismo no livro. Dentro dessas vivências a narrativa ainda trabalha as relações familiares de Henrique, Martha e Pedro e como isso acaba por influenciar a vida de todos eles. O livro ainda aborda questões sociais de importância principalmente se você é uma pessoa preta como educação falha e sucateada e violência policial.

Essa não é uma leitura fácil ou confortável, principalmente para pessoas pretas, o livro é uma ficção, mas retrata uma realidade que acontece todos os dias, não importa a hora e não importa o lugar. O livro traz muito sobre o cansaço de viver toda uma vida se podando, se encaixando, se diminuindo, se "comportando" e que por melhor que seja a pessoa basta um pequeno "mal entendido" para que uma vida preta seja ceifada.

Ainda que esta seja uma leitura desconfortável, até porque a construção narrativa do livro tem o propósito de que seja uma leitura desconfortável por motivos óbvios, eu adorei o livro, a construção dos personagens é impecável, o desenvolvimento da história é tão bom que parecia que estava presenciando tudo enquanto acontecia, muito feliz em ter realizado essa leitura, ainda que incomoda e dolorida.

*4.5

Obrigada à Companhia das Letras por me fornecer o audiobook via Netgalley em troca de uma avaliação honesta!

Estou muito feliz de finalmente ter completado essa leitura, que tem sido muito falada nos últimos tempos devido a censura em algumas escolas no sul do país, onde, não coincidentemente, a história se passa. Iniciei essa leitura sem saber quase nada sobre a história, a não ser que tinha o racismo como temática, e acho que isso tornou a experiência ainda mais impactante. Aqui, temos uma narrativa não linear, envolvendo vários personagens, e narrada parcialmente em segunda pessoa, um elemento que achei muito bem empregado na narrativa. Em alguns momentos tive dificuldade de me situar, já que o narrador ia e voltava no tempo e às vezes tirava o foco do(s) protagonista(s) para contar sobre seus amigos, familiares e outros personagens ao seu redor, mas aos poucos fui me acostumando com essa estrutura.

A história é sensível, emocionante e reflexiva, mas tem temáticas bastante pesadas e algumas descrições um pouco gráficas. Eu li em um único dia, pois fiquei muito engajada, especialmente na última parte em que os capítulos são curtos e tensos, mas, apesar do livro ter menos de 200 páginas, alguns leitores podem preferir consumir essa história em doses menores.

Também achei o audiobook muito bom. É narrado pelo próprio autor, o que nem sempre funciona com livros de ficção, mas acho que aqui funcionou muito bem. Minha única ressalva é que às vezes não dava muito para distinguir falas de personagens da própria narração.

Recomendo muito!

O Avesso da Pele é uma narrativa honesta e dolorosa do que significa ser negro em uma das cidades mais racistas do Brasil. Tenório nos apresenta a realidade vivida pelas pessoas negras desde que nascem até o momento que morrem. A narrativa em segunda pessoa levou um tempo para acostumar, mas no final do livro a escolha do autor faz todo sentido. Alguns momentos achei um pouco lento e repetitivo já que a mesma história é contada mais de uma vez. Quanto ao áudio, a narração de Tenório é boa, mas alguns momentos ele fez umas pausas que não pareciam encaixar no texto e me fizeram pensar que o áudio livro havia parado de tocar por algum motivo. A realidade apresentada no livro é real, atual, cruel e é com extrema sensibilidade e humanidade que Tenório nos mostra tudo isso. Uma excelente leitura.

ME SURPREENDI COM O LIVRO, GOSTEI BASTANTE DA NARRAÇÃO, FICOU INCRÍVEL! ESPERO LER/OUVIR MAIS OBRAS DO AUTOR

Dilacerada. Foi assim que me senti ao terminar essa leitura.

Humano e honesto, em poucas páginas o Jeferson consegue te fazer sentir muito próximo aos personagens, e desde as primeiras páginas vem surgindo aquilo aperto no peito e a vontade de acolhê-los.

Uma pena um livro com uma história tão forte quanto essa estar passando por censura em algumas escolas. Triste em saber que as pessoas que lutam por essa censura nem ao menos leram o livro. Mais triste ainda é essa realidade cruel que o livro retrata ainda é tão presente na vida de muitos.

O audiobook foi uma experiência ainda mais especial. Ouvir essa história narrada pelo próprio autor foi um presente muito especial.
Viva a nossa literatura contemporânea que é tão linda, tão forte e tão poderosa.

Obrigada #NetGalley e #CompanhiaDasLetras pelo ARC.