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Member Reviews

Como vocês podem imaginar, esta resenha conterá eventos dos dois primeiros volumes da série, chamados de “Destruidor de mundos” e “Destruidor de Espadas”, em ordem, e você pode ler minhas resenhas individuais de cada volume clicando AQUI e AQUI. Vinda de um sucesso estrondoso com a série “A Rainha Vermelha”, Victoria Aveyard deixou claro, desde o principio, que esta série dela, sua segunda de publicação, seria uma alta fantasia inspirada pelos livros que ela leu ainda jovem. Tenho muitos pensamentos sobre isso e falarei sobre nesta resenha, mas quero deixar claro que sou defensora dessa trilogia com todo meu ser, mesmo ela não tendo logrado tanto exito quanto sua antecessora.

E acredito que seja por ai o caminho de entrada para uma conversa que acredito que uma hora vamos precisar: Por que muitos taxam alta fantasia de séries chatas, descritivas demais, com personagens demais? Não sei te explicar. Assim como Aveyard, li “O Senhor dos Anéis” quando jovem e fui impactada pela história sobre o mal e o bem, mas, ao contrário dela, não me tornei uma fã ardorosa da história justamente porque achei chata quando a li – e hoje em dia preciso reler para ver minhas impressões. Isso nunca me impediu de ler mais altas fantasias, mas hoje em dia vejo o poder e força de criar um mundo do zero, com mapas, línguas, mitologia, tudo absolutamente novo. Entendo que muitos leitores não gostam de se prenderem sobre a construção de um mundo, mas quando ela está completa e sedimentada, a leitura te envolve de uma forma que não há como fugir de se tornar fã. E Aveyard, apesar de ter esses livros tidos como YA (não entendo como, sinceramente) constrói tudo isso em sua trilogia “Destruidora de Mundos” com maestria e pensando em alta fantasia, entregando uma trama muito bem amarrada com personagens que são realmente muito bons. Se você ainda não deu uma chance a essa série porque acredita que ela vá ser entediante e confusa, vá por mim: dê uma chance e se aventura por Todala.

Iniciando também de onde o segundo livro se encerra, em uma batalha sangrenta, o grupo de Companheiros está completamente separado e a maior parte lidando com as consequências físicas de uma luta tão grande. Corayne an-Amarat, nossa protagonista, acredita que todos morreram e está tentando fugir dos seus próprios demônios, acreditando que falhou miseravelmente. Não podemos dizer que ela está errada ou fazendo drama porque a batalha foi intensa e apesar de ter conseguido algum pouco sucesso contra seu tio, Corayne sente que perdeu as pessoas que ela aprendeu a ter como família. Seu par romântico, Andry Trelland, não está com ela e está realmente perdido em tudo que enfrentou, mas obviamente também irá tentar reencontrar seus companheiros, ao mesmo tempo que se refaz de tudo que já enfrentou até ali. Já a bruxa Valtik está realmente desaparecida, mas dela esperamos tudo, certo?

Claro que nem todos morreram e o destino de Domacridhan o une ao de Sorasa Sarn novamente e claro que a assassina está tramando todas de um jeito que me pegou de surpresa – e espero que pegue vocês também. Eles são, definitivamente, meus personagens favoritos, com maior desenvolvimento, com maior química e os quais eu precisava que sobrevivessem, mas obviamente não contarei à vocês o que acontece. Quando o destino dos dois, junto com Sigil, os levam até Meliz an-Amarat, tudo parece convergir para que o trio, que tem esperanças que Corayne esteja viva, a encontrem, mas é Charlie, o nosso religioso, está também tentando manter alguma esperança, que a encontra primeiro. Com grandes novidades, Charlie e Corayne decidem que vão ter que bastar para salvar Todala e o dia, sem imaginar que os outros sobreviventes ainda os procuram. Claro que tudo isso acontece em algum ponto, e tenho que confessa que enquanto “Destruidor de Espadas” me decepcionou em alguns pontos por acreditar que teve páginas demais, “Destruidor de Destinos” tem apenas 6 páginas a menos do que os outros dois volumes da trilogia e parece ter poucas páginas para toda trama que precisa apresentar, tendo saltos de tempo sem enrolação em suas páginas. Não houve um momento de paz neste livro e recebeu meu selo de aprovação total neste sentido.

E, claro, não vou deixar de falar deles, a minha dupla de vilões favoritos da vida: Taristan e Erida. Se Taristan já é, por si só, um personagem poderoso, cruel, fraco por ter sucumbido ao mal simplesmente por vingança, Erida é o que mantem mais humano porque ele a ama, realmente a ama. Erida, em contrapartida, está cada vez mais sendo tentada pelo Porvir, e o desenvolvimento dela neste livro é um espetaculo: para você que, assim como eu, adora uma mulher forte que aceita até mesmo ser vilã para ser protagonista e não se submeter a ser só uma conadjuvante na vida de qualquer personagem masculino, você também irá amar, sem sombras de dúvidas. A ambiguidade moral começa a ceder e temos aqui uma verdadeira jornada rumo ao mal com Erida, e por diversas vezes pensei que ela iria fazer coisas ruins, mas não tanto quanto chegou a fazer aqui, em uma cena que aprendemos mais sobre o quanto ela está disposta a se dar para o mal, ao mesmo tempo que temos pena dela abrir mão de tantas coisas. Não posso falar mais sem entregar spoilers, mas uma salva de palmas para esta rainha vilã que tinha todos os motivos certos, mas escolheu o caminho errado.

Quase todos personagens que ainda estão vivos aparecem neste volume e há sim, mais uma reviravolta que fez todo sentido, já nas páginas finais da trama. Alias, este o motivo pelo qual este livro não ganhou uma nota mais alta para mim: o fato de que esta reviravolta acontece ali me deixou meio estupefaça, já como algo assim poderia ter mais desdobramentos – deixando claro, esta reviravolta acontece na batalha final, enquanto tudo está realmente ruindo ao redor de nossos heróis. Mas, ao mesmo tempo, fez total sentido só a explicação daquela reviravolta vir ali porque ela era também autoexplicativa, sem precisar de mais explicações. Toda vez que eu olhava para a contagem de páginas e via que faltavam poucas páginas para o tanto que eu queria ver, me deixava ansiosa, mas preciso falar que não acrescentaria nada além do que está nas páginas: todos encontram seu destino final, da forma como tem que ser, e Aveyard sabia disso muito bem.

A sensação que tenho é que Aveyard sabia muito bem que história queria contar, até nos mínimos detalhes. Não a conheço fundo e não sei se ela faz um mapeamento especifico de suas leituras, mas a conclusão deste livro, a forma como tudo encaminhou, como todos destinos iam, mais uma vez, se encontramos, me deu a sensação que poucas vezes tive ao ler uma série ou trilogia: a autora sabia aonde chegaria, e claro que podem (e devem) ter acontecido algumas mudanças e ajustes, mas não se deixou desviar e se manteve fiel ao que acreditava ser sua história, seu mundo e sua jornada da heroína em toda sua força. O mundo completo ajuda a nos dar a sensação, com um exercito de mortos, dragões, seres imortais e, claro, o demônio Porvir.

Lendo os agradecimentos de Aveyard e entendendo suas palavras para JRR Tolkin, fica realmente claro que “O Senhor dos Anéis” foi a grande inspiração para a autora, que diz que quando ela bastante jovem e lia fanfic, era por uma aventura assim que ela procurava. E preciso dizer que sim, Victoria Aveyard conseguiu: essa trilogia pode até não ser cultuada agora, mas aposto que com o passar dos anos, será – os caminhos da comunidade literária trabalham por caminhos misteriosos, e, muitas vezes, livros de anos atrás voltam a fazerem sucesso absolutamente do nada, e espero, do fundo do meu coração, que este seja o caso. Nenhum mundo, espada ou destino foi quebrado durante a leitura desta série, mas um leitor teve sua vida tocada por essa série com aquele final em chamas, mostrando que o amor pode sobreviver, até mesmo dentro do mal.

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