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Como vocês podem imaginar, esta resenha contará com spoilers dos dois primeiros volumes da série, “A Rainha Sol” e “O Rei Aurora” (Você pode ler as resenhas sem spoilers AQUI e AQUI), então se você ainda pretende ler a série, pule esta resenha ou leia a do 1º livro para se convencer a ler a jornada de Lor. Mas, em linhas gerais, o que quero deixar claro para vocês é que este livro trouxe uma questão muito importante: o que fazer quando a autora descarateriza uma personagem importante? Foi o que senti ao terminar a leitura, mas talvez não da forma como vocês podem imaginar.
A sensação que tenho é de procurar o que falar dessa série de livros e não pareça redundante. Em seu terceiro volume, “Artefatos de Ouranos” dobra a aposta e nos leva a uma trama que apresentou novas informações (a ponto do leitor ficar “mas de onde veio isso aqui?”) e enfim a consumação do casal Nadir e Lor. Eu sei, eu sei, se você leu minhas resenhas passadas dos dois primeiros volumes, já estava mais do que obvio que eles eram um casal, mas Lor, repleta de problemas, ainda duvidava de seus sentimentos (nem sei como mais porque já estamos no terceiro volume) e Nadir também parecia duvidar da sua capacidade de se apaixonar, mas enfim superamos esta parte e o amor enfim foi aceito. Mas vamos lá pra comentar o livro porque é pra isso que estamos aqui.
Depois das revelações que Lor enfim consegue e deixa o leitor saber (porque ela não é confiável, já como sabia de muitas informações desde o começo de sua jornada e não nos permitia saber), Lor está disposta a voltar ao Espelho em posse do Rei Sol, Atlas, aquele que ela quase se casou do volume 1 e que claramente é um dos grandes vilões da trama. Depois de quase morrer nas mãos dele, Lor decide que precisa voltar para para descobrir mais sobre seus poderes, claramente sendo a herdeira e primária do Coração. Nadir, como sempre, está orbitando em volta dela e decide ajudá-la porque quer muito matar seu pai, o Rei Aurora, e que também é um dos grandes vilões da trama. Sim, há muita gente querendo Lor, seja para matar, seja para usar seus poderes.
Mas a grande surpresa deste volume é que ele não começa seguindo Lor ou Nadir, e sim Gabriel, o soldado guardião de Atlas que possui muitos segredos e que acreditei que iria formar um triangulo com ela e Nadir, coisa que não se confirmou (ainda bem), mas a própria Lor chega a pensar neste volume que se ela soubesse que Gabriel era obrigado a proteger Atlas, as coisas entre eles poderiam ser diferentes, deixando no ar se falava só sobre amizade ou o que. Gabriel está com Atlas, que está enrolado Apricia para não se casar com ela, a vencedora do torneio do primeiro livro, porque ele quer se casar com Lor – só que já entendemos que Atlas não quer se casar com Lor por estar apaixonado e sim por ter uma ideia sobre nossa protagonista. E enfim temos respostas sobre Atlas.
As repostas sobre Atlas são mais vilanescas do que esperava, sendo bem sincera. O ponto de vista de Gabriel aqui foi fundamente para isso, mas lembra que falei no começo desta resenha sobre como haviam informações que surgiram que fiquei “mas de onde veio isto”? Pois é, envolve Gabriel e seu passado, a quem seu coração pertence e afins. Sem dar grandes spoiler, toda trama de Atlas e Gabriel parece ter chegado ao ápice neste volume, entregando um final surpreendente e satisfatório.
Ainda temos ponto de vistas de Lor (claro, ela é a protagonista) e de Nadir (em menor quantidade), mas também dos primeiros Deuses e primordiais explicando novas informações que vão se juntando em um quebra cabeças que particularmente me deixa apreensiva porque quando sentamos para ler uma série, precisamos ter as informações necessárias sobre a trama central, principalmente em fantasias. Temos de conhecer o mundo, o sistema de magia e até onde todas as regras podem ser quebradas ou não, afinal, se não houver regras, tudo vale, certo? Mas e quando novas informações e novos pedaços de mitologia são desembocados no decorrer da trama, fica uma sensação de roubadinha – pelo menos funciona assim comigo. E foi o que aconteceu aqui: talvez os Deuses não funcionem como foi explicado até aqui e talvez quem eles acreditam que sejam realmente a Deusa misericordiosa não seja quem eles pensam. Não posso falar muito sem dar spoilers, mas a sensação que tive aqui foi que a autora quer tanto surpreender o leitor que não se importa em simplesmente nos enganar.
Falando sobre a autora, a escrita ainda continua deliciosa. É o tipo de livro que você começa a ler e não quer parar pelo simples de se envolver. Lor e Nadir já enrolaram tanto que a própria autora começa falando que enfim eles vão ficar juntos depois de tanto slow burn e também atenta para todos os gatilhos presentes já citados antes – violência sexual não descrita, mas presente no pausado traumático de Lor. A cadência da escrita continua acima da média, o universo é vasto e encantador, mas a decisão da autora de nos surpreender com novas informações me perdeu um pouco, só que, além disso, ainda é uma descaracterização forte de Lor no final do livro que também foi feita para surpreender o leitor. Pelo menos é no que acredito.
Lor é uma personagem bastante complexa. Traumatizada com tudo que aconteceu na prisão de Nostraza, com medo de seus próprios poderes, a personagem é uma ótima chutadora de bundas, mas terrivelmente castrada emocionalmente. A sua relutância de se envolver sentimentalmente com Nadir, a forma como afasta as pessoas termina sendo bastante explicada. Só que ao mesmo tempo, quando ama, Lor é profundamente leal e seria capaz de morrer por estes, como seus irmãos, Willow e Tristan (inclusive, tiveram cenas entre os irmãos que partiram meu coração) e é ai que fiquei confusa: por que alguém que ama tanto colocaria uma das pessoas que mais ama em perigo? É isso que Lor termina fazendo nas derradeiras páginas do livro, o que obviamente não contarei o que, mas só termina a trama com um grande suspense porque não acredito, nem mesmo remotamente, que aquelas consequências ali vão perdurar. Já li livros demais nesta vida para acreditar nisso.
Quando comecei a escrever esta resenha, nem acreditava que escreveria tanto, mas a verdade é que estou investida nessa série. São livros envolventes, um tanto quanto longos, e, ao que tudo indica, não gerará uma série derivada, já como a série terminou de ser publicada ano passado e não foi anunciado nada até agora. O quarto e último volume, que aqui deve se chama “A Rainha Coração”, levando-se em conta a escolha da tradução dos outros títulos, tem uma sinopse bastante vaga, mas se tem algo que aprendi com “Artefatos de Ouranos” é a não me prender a nenhuma sinopse porque elas não entregam nada – lembrem-se, está é uma série sobre féericos e em nenhuma sinopse deixa isso claro. A Editora Seguinte ainda não anunciou quando este último volume será publicado.
Cada vez mais fico me questionando aonde está trama nos levará, mas também não tenho pressa que termine porque acredito que vou sentir falta deste universo que pode até mudar conforme o leitor se aventura por ele, mas que realmente entrega o que promete: uma boa fantasia com um casal que está lutando muito para ficar junto, uma mocinha que demonstra estar disposta a tudo para derrotar seus inimigos e proteger quem ama, até mesmo se tornar uma rainha, com os pros e contra do titulo.