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Já podemos dar a coroa de rainha das comédias românticas BR pra Bia Crespo ou vocês precisam de outra canetada para tal? Sério, gente, não sei nem explicar pra vocês o quão maravilhosis os dois livros da Bia são: com personagens fofas, mas reais, com confusões dignas de um filme de comédia romântica e resoluções de deixar o coração quentinho por todos os motivos do mundo, tudo embaladinho com diversas referências culturais. É tão bom ver a ascensão de boas autoras que se preocupam com seu público e que, principalmente, querem mostrar um mundo mais diverso e colorido do que era antigamente. Imaginar que os jovens de hoje em dia, que estão se descobrindo parte da comunidade LGBTQIA+ podem se ver em livros e compreenderam que podem ter uma história de amor nível filmes de romance da sessáo da tarde é nada menos do que maravilhoso.
Em uma escrita mais madura da autora e ao contrário do seu antecessor, “Tudo que ela me disse”, é um livro de descoberta sobre quem uma adolescente é, com reações das pessoas ao redor como partes das famílias e amizades que não estão a altura do que as personagens principais mereciam. Se você quer um resumo do resumo do que achei deste livro, fique com um: MARAVILHOSO. Agora vem comigo que vou falar mais sobre a trama de Marília e quem ela é.
Marília é uma adolescente que está completando 15 anos em 8 de março de 2004. Nada popular no Instituto de Educação Santa Cássia, onde faz parte do 1º ano do segundo grau, a garota tem sua festa com somente suas duas melhores amigas, as irmãs gêmeas Tânia e Tamara. Marília ama filmagens, sonha em ser uma diretora de cinema no futuro e acaba de ganhar uma câmera nova mais moderna – para a época, mantenham em mente! Aproveitando ainda a antiga que tinha, Marilia gravava as amigas em momentos descontraídos, sendo as 3 são a trindade nerd da sala de aula que tem um grupo liderado por Fernanda como a popular suprema, uma garota super descolada que é basicamente uma sócia a Avril Lavigne.
Como se já não bastasse todos os problemas e confusões desta época de nossas vidas, as 3 amigas sofrem bullying pesado por serem boas alunas – e Marilia ainda tem o corpo fora do padrão estetico, o que obviamente causa momentos constrangedores para a jovem. Mesmo sendo bastante aplicadas, as amigas esquecem um projeto de biologia sobre plantas, e é ai que nossa trama começa: o professor, encantado com a forma inteligente como as garotas conseguira, apresentar o trabalho a tempo em forma de um vídeo, dá a dica para Marilia aproveitar seus dons como criadora de vídeos em outras matérias.
Mas falta elenco, já como as melhores amigas de Marília, Tânia e Tamara, não gostam nadinha de aparecer nas filmagens, e é ai que o destino entrou com um empurrãozinho: a coordenadora do colégio chama justamente Fernanda, a popular da turma, para uma reunião com Marília propondo que as duas se ajudem: Marília vai ajudar Fernanda a melhorar de notas e Fernanda levará seu grupo de populares para aparecerem nos vídeos de Marília. E é assim que temos as duas personagens que vivem em opostos dentro da sociedade do colégio juntas, aprendendo uma sobre a outra e, claro, se apaixonando. Todo arco de compreensão da sexualidade da jovem é composto magistralmente, perfeitinho pela autora.
Sim, a trama é realmente uma comédia romântica com todos seus traços: rola desencontro, brigas e momentos de pura fofura, tudo encaminhado para um final delicioso de ler e acompanhar. Mas lembra que falei que essa trama é mais madura do que o primeiro livro da autora? Torna-se impossível não mencionar “Eu, minha crush e minha irmã” (leia a resenha sem spoilers clicando AQUI) nesta resenha pelo simples fato de que as duas histórias se passam no mesmo universo – quem leu o primeiro livro já conheceu Marília e Fernanda no “futuro” delas, ou seja, em nosso presente. Enquanto a primeira trama me fez dar mais risadas do que normalmente dou em livros, este aqui me deixou mais pensativa porque temos o fator decepção com amizades aqui. E o livro brilha na construção da amizade Marília, Tânia e Tamara.
Quando Marília enfim entende sua sexualidade e assume para as amigas que está apaixonada por Fernanda, uma das irmãs aceita muito bem, mas a outra não. Em outra cena do livro, quando se veste com algo que se sente bem, a jovem sofre uma agressão verbal que corta o coração de quem lê e, claro, muito mais para quem escuta algo assim. São sempre as pessoas próximas que nos infligem as piores dores e faz com quem passemos a acreditar que a humanidade talvez não tenha mais salvação – ao mesmo tempo que são justamente a reação de pessoas próximas a Marília que também nos fazem acreditar que há sim, salvação.
Não se engane: “Tudo que ela me disse” tem esse lado mais sério e que pode ser relacionado a diversos outros casos de amizades que nos decepcionam, mas é sim, uma deliciosa comédia romântica, daquele tipo que a gente lê e quer um filme bem fofinho pra amar as pessoas, lotar cinemas e depois assistir na sessão da tarde. Se você não conhece a Bia Crespo, você está perdendo tempo em sua vida de bookstan e a entrevista que o livro trás em suas derradeiras páginas provam isso. Já conhecia a Bia desde o seu primeiro livro público e na quarta-feira bati um papo com ela que foi, mais uma vez, delicioso – então corra pra ler os livros desta mulher maravilhosa que insiste em escrever tramas solares que são capazes de colorir até mesmo o mundo das pessoas que só vem cinza, como esta que escreve esta resenha. Mal posso esperar pelo próximo, Bia.