Confesso que tinha grandes espectativas pra esse livro, a premissa era boa, um coming of age de um menino do interior que vai pra cidade grande conquistar seus sonhos e se descobre no processo, tendo que lidar com o luto de perder sua avó, uma figura familiar tão forte em sua vida.
Só que o Luca peca ao forçar tantas auto inserções no livro, de modo a não parecer uma história e sim um diário das aventuras do próprio Luca. Nós temos a frase de impacto do livro preferido dele, a decoração do quarto do protagonista é a decoração de seu quarto visto no Instagram, ele chega a criar um trecho na história só para inserir o personagem que ele interpreta nas redes sociais de forma escancarada e forçada. Claro, não tem como não ter algo do autor no livro, mas a diferença entre autores experientes é que eles sabem como fazer isso de forma natural para que o leitor não perceba.
Outro problema que encontrei foi que em alguns momentos a transição do texto parecia forçada, com trechos meio jogados, aleatórios e até incongruências como celular funcionando no metrô, o protagonista do nada encarar a namorada do melhor amigo dele como melhor amiga também e depois abandonar essa informação.
E ai temos os personagens secundários, que me parecem ser construídos querendo preencher a cota da diversidade. Temos uma pessoa Trans, uma pessoa Arromantica, uma pessoa Lésbica. E isso não tem impacto na história, parece que esses personagens tão lá só por existir. Mas preciso reconhecer que o diálogo do protagonista com o Nic sobre ser Arromantico é bem interessante, apesar de so servir como um trampolim pra história do protagonista e do nada termos um momento best friends forever.
O livro contém muitos plots pra poucas páginas, e isso deixa a história apressada, de forma que você não consegue respirar. Claro, o plot principal é destacado, a descoberta da sexualidade e a vontade de ser ator. Mas no meio disso tudo acontece tanta coisa que a gente se perde.
É a morte da avó, aí corta pro concurso de atuação, e a festa do melhor amigo, o primeiro beijo aquileano, volta pro concurso, perde o concurso, ganha o concurso, namora a "melhor amiga", termina com a "melhor amiga" e tudo isso só no primeiro ato.
Aí na segunda tem a viagem pra Nova Zelândia, o romance com o boy do avião, que toma boa parte do segundo ato, aí tem a treta com a ex, treta com o boy do avião, a peça, o reencontro, a separação, a saída do armário para os pais, a carta final da avó.
E o livro acaba. Sem mais nem menos. Com várias pontas soltas e situações má resolvidas.
Então ele decide meter um epílogo pra resolver tudo pendente em poucos parágrafos que poderiam ter sido melhor desenvolvidos.
Apesar dos aspectos negativos, preciso destacar alguns pontos interessantes na escrita. É muito bacana acompanhar os surtos do protagonista através dos pensamentos em que ele conversa com ele mesmo, dá pra sentir o dilema dele.
As cartas da avó saindo como conselhos dados pelo universo exatamente na hora que o protagonista precisa, e a trilha sonora da MPB são um charme à parte.
No fim esse livro é uma jóia bruta que podia ter sido melhor lapidada, se tivesse tido um cuidado maior e uma reescrita ficaria uma grande história.