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Como Nascem os Fantasmas é o primeiro romance de Verena Cavalcante e nos transporta para o interior de São Paulo dos anos 90, um cenário cheio de nostalgia e muitas referências da época.
É lá que conhecemos Beatriz, uma jovem cuja vida foi marcada pela ausência da mãe e que cresceu tentando agradar à avó, que acredita, até certo ponto, que Beatriz seja a reencarnação de Ângela, mãe da menina, que faleceu no parto.
Beatriz, mesmo sem ter sequer conhecido a mãe, tenta preencher o vazio deixado por ela, imitando seus trejeitos e gostos, fragmentos do que ela vê em fotografias ou do que a avó deixa escapar em conversas, mas ainda assim ela sabe que nunca conseguirá alcançar a perfeição que a avó espera.
Presa a uma rotina de cuidar do avô e tentar fingir ser a "Ângela perfeita", Beatriz vê sua realidade completamente abalada quando se comunica com uma criança que revela o local de um crime horrível.
A partir daí, Beatriz cai em uma jornada cheia de segredos, dores antigas e revelações que ameaçam não só sua visão sobre os outros, mas sobre si mesma.
É uma leitura que provoca um verdadeiro misto de sensações. Não é um livro que eu indicaria para todos, pois pode ser uma experiência densa e até aterrorizante para alguns. No entanto, caso eu ainda não tivesse lido, gostaria muito que alguém o tivesse recomendado para mim, pois, para mim, foi uma experiência fascinante.
É bizarro, mas do melhor jeito possível. A leitura é tão envolvente que você devora as páginas sem nem perceber o tempo passar. Mas mais do que bizarra, a história é intensa e mesmo com elementos religiosos e sobrenaturais, se destaca para mim na forma de explorar questões humanas profundas, como o luto, traumas familiares e o conflito de identidade.
Na minha opinião, a Verena soube trabalhar bem esses tópicos pelo simles fato de deixá-los “crus”, e de certa forma relacionáveis. É possível ver uma pessoa real em cada personagem.
Inclusive me deixou com vontade de discutir certos pontos com colegas da época que eu cursava psicologia.
E o que falar sobre a capa?! A capa já nos prepara para o que está por vir. A arte é sensacional! Prende o olhar de imediato, até para quem não for fã do gênero. Uma verdadeira obra de arte.

Como nascem os fantasmas é mais que apenas um livro de terror, é uma história de amadurecimento. Beatriz perdeu a mão ao nascer e sua avó, rezadeira e metida com o oculto, acredita que ela é a reencarnação da filha.
Beatriz cresce cercada pelas crendices da avó, a amizade com Cadu e Lipe e os cuidados com o avô, ex policial preso a uma cama em estado quase catatônico.
Mas a vida dessas pessoas não é tão simples e o real e o sobrenatural muitas vezes se sobrepõem.
O livro me surpreendeu de forma positiva.

Há histórias voltada ao terror que são simplesmente assustadoras, sem um significado e nuances ocultas – “O Exorcista”, de William Peter Blatty, de 1971 – que são feitos para assustar baseado na ideia de temermos o mal na forma de um demônio, detentores de uma força muito maior do que nós, simples humanos, podemos compreender. Sou fã do gênero, mas acho que mais assustador do que o oculto e inexplicável são os humanos, estes seres que são capazes de fazerem as maiores atrocidades por diversos motivos, inclusive o simples “porque posso”. Não consigo explicar o quanto isso me assusta, mas também há outra coisa que me assusta: a forma como diversas formas amor podem ser negados a alguém que deveria receber aquele amor.
Beatriz é uma garota de 11 anos que cresceu tentando ser a mãe, Ângela, morta no parto da filha. Sua avó, dona Divina, cuida da neta de uma forma absurdamente desconfortável: a vesta com as roupas da filha já morta e por diversas vezes a compara a filha, fazendo uma sombra pairar na garotinha, que tenta imitar os jeitos, gostoso e modo de falar da mãe com a qual nunca conviveu, mas vê através de fotos. Bia é colocada em um lugar de tanto tentar ser alguém que não é que começa a se olhar no espelho e não saber se é ela, Bia, ou o fantasma de uma mãe que ela provavelmente tinha amor por, já como nunca conviveu. E o mais assustador é que Divina não vê o estrago que está fazendo na garotinha mesmo a amando e tentando protegê-la, mas este amor não é capaz de proteger a neta das escolhas que ela fará, tudo em busca de se sentir mais próxima da avó e de se descobrir.
Bia é uma garotinha desconfortável em sua própria pele: se sente grande demais, alta demais, gorda demais para as roupas de sua mãe. Sente que deveria ser mais cheia de candura, exatamente como sua mãe, mas há uma ferocidade dentro dela, uma sede por descoberta e desbravar o mundo que não é capaz de a segurar naquela forma que ela gostaria de ser. Tudo isso vai acontecendo ao mesmo tempo que somos apresentados a Divina pelos olhos da neta, uma mulher forte e firme, que cuida do marido em estado vegetativo em casa.
Divina também é uma benzedeira e médium – e aqui preciso falar que se você já era uma criança nos anos 90, você irá ter diversas menções a coisas que aconteciam neste pais, desde sandálias da Xuxa (de plástico e que provocavam bolhas se a usassem demais) à banheira do Gugu. Mas aqui, o tempo se faz extremamente necessário e não somente uma escolha narrativa, já como o avô de Bia, seu Cristovão, foi da policia durante a Ditadura Militar brasileira e foi ao tomar um tiro que ficou naquele estado que a garotinha sempre se espanta ao ajudar na limpeza do idoso.
Tudo começa a mudar quando Beatriz começa a tentar ser ela mesma e com a morte de uma garota de 7 anos chamada Mayara. Em uma noite, Bia vê Mayara, que aparece para ela de uma forma realmente assustadora e que obviamente não falarei mais para não entregar spoilers, mas é ai que o relacionamento dela com a avô realmente começa a ruir de forma irrecuperável. Apesar de ser médium, dar benções, incorporar espíritos e ser ativa na Comunidade do Divino Espírito da Flor Vermelha, a mulher não queria o mesmo destino para a neta, e, por isso, quando a neta começa a assinalar que está vendo espiritos, a avó rejeita a possibilidade com toda força, sem querer dar crédito ao que neta afirma estar acontecendo, mesmo Divina incorporava Madame Helena Blavatsky (referências!) e assumindo os trabalhos de clarividência da comunidade.
Bia também tem amigos, mas o principal é Lipe, garoto basicamente abandonado que claramente nutre sentimentos pela garota e que é todo apoio que ela tem depois de um rompante que leva a uma cena de cortar o coração entre a garota e sua vó Didi, o abismo entre as duas criado de uma forma sem deixar lugar para a construção de uma ponte. Lipe realmente tenta de tudo com Bia, mas há uma proteção da garota que é explicada pela forma com a qual ela se vê e também a forma como sempre foi comparada com sua mãe. Crescendo assim, parece que amor nunca chegará até Beatriz e isso é de partir o coração do leitor.
E é justamente Lipe quem Bia convence a ajudá-la em um ritual, já como sua avó parece não aceitar sua própria mediunidade, e é ai que tudo vai realmente mudar, carregando a trama para um final esperado e apoético, mas que também acerta o leitor com a sua imensidão e possibilidades, salpicado de momentos sombrios e desejos nunca concretizados. Tudo que se pode sentir ao encerrar esta leitura é a vontade de remendar nosso próprio coração e a forma como as pessoas podem entrar em nossas almas de uma forma sem volta – e também vontade de dizer pra Bia que ela merece ser amada sim.
O terror e o gore fazem parte da trama, que claramente mistura os tipos de horrores que falei no começo desta resenha, em todas as suas páginas. Bia é uma personagem complexa, mesmo com sua pouca idade e, claro, não espere uma trama inocente e nem leve, já como estamos falando sobre terror. Verena foi uma grata surpresa e definitivamente essa trama me atingiu de formas diversas, mas, definitivamente, o que precisamos entender é que nem tudo se explica, mas tudo se sente – e o amor é algo que devemos receber e não somente aceitar o que acreditamos merecer. Sei, misturei narrativas aqui, mas senti muito pela Bia e espero que ela tenha tudo que merece, mesmo sua avó tendo feito nascer diversos fantasmas nela, reais ou não.
O livro ainda está em pré-venda e será publicado em 10 de junho próximo.

Com lançamento para o dia 10 de junho, Como Nascem os fantasmas é o romance de estreia da autora Verena Cavalcante. O livro é do gênero terror, e tive o prazer de lê-lo através do #NetGalley.
Na história, acompanhamos a menina Beatriz que vive com seus avós e busca pela validação da vó Dona Divina. Divina, uma médium, faz a menina viver “sob a sombra” da mãe falecida e Beatriz tenta se moldar a todo custo a essa imagem, mas nunca é o suficiente.
Quando a garota tem a visão de um fantasma que lhe conta sobre o crime que sofreu, ela vê nisso a oportunidade de enfim ser validada pela avó. No entanto isso desenterra grandes segredos e problemas.
Ao longo da leitura eu virava as páginas (imaginem aqui as páginas do kindle virando) de forma angustiada, vendo o quanto Beatriz ia se complicando ao tentar ser o retrato de sua mãe e as consequências de cada atitude dela.
A narrativa trabalha bem demais com metáforas para explicar diversos conceitos como luto, amadurecimento, identidade e os fantasmas (reais e, claro, os metafóricos, que criamos).
Somente no final, senti que o uso das metáforas atrapalhou um pouco a tensão construída. Acredito que isso é mais por falta de experiência minha como leitora em relação ao estilo de narrativa. O estilo em nada compromete a história, que é sensacional, apenas me tirou um pouco da imersão que tanto me prendeu ao longo das páginas.