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Vírgula. Comumente utilizada para separar elementos, dar pausas e distanciar termos. Aline Bei faz bastante uso de vírgulas, para além da utilização gramatical ou sintática, mas também para a construção de sentido da narrativa de “Uma delicada coleção de ausências”. A vírgula é um sinalzinho minúsculo persistente que nos deixa na expectativa de algo que está faltando e que será colocado logo mais na sentença. A ausência se tornando manifesto. A bendita da vírgula me deixa na espera de que aquilo que falta ser completado pela próxima colocação na sentença.

Porém, na narrativa, o que precisa vir depois da vírgula não se apresenta. Fica ausente e com isso a ausência se torna presença. A vírgula aqui bastante utilizada é um recurso para criar a atmosfera da falta presente que percorre todas as páginas do livro. São mulheres que precisam encontrar um caminho diante de uma existência toda de agruras, silêncios e vírgulas. A espera se tornando vazio e a ausência se tornando presença.

As delicadas vidas da bisavó Filipa, da avó Margarida, da mãe Glória e da neta Laura são costuradas por seus laços de sangue e pelos silêncios, pois a vida familiar dessas mulheres são marcadas pelos embates e o consequente silêncio, para mais, são mulheres que precisam lidar com uma história familiar feita pelo desencontro, desentendimento, perdas e abandonos. A ausência passada adiante pelas gerações como uma herança que desenha quem essas mulheres se tornam.

Essa é a minha primeira leitura de Aline Bei, penso que talvez possa estar atrasada por ter lido só agora, contudo, percebo que existe o tempo dos livros. O tempo de “Uma delicada coleção de ausências” foi agora e não poderia ter sido mais propício. Foi uma leitura bastante tocante, daquelas que te comove lá de fininho no fundo do coração para melhor comover, e tudo isso pela poesia que Aline Bei dá o tom.

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As ausências, faltas e o silêncio destroem vagarosamente as relações familiares, a auto estima e a alegria na vida de quatro mulheres de uma mesma família. Poucas dores são tão profundas quanto a do abandono, que causam lacunas descomunais na vida de quem se sente rejeitado, e as mulheres dessa família sentem essa ausência, embora tentem seguir em frente.
Aline narra a vida de Filipa, Margarida, Gloria e Laura, quatro gerações de mulheres marcadas por diversos tipos de ausências: de proteção, de escolha, de afeto.
Margarida, a personagem principal, cuida da neta Laura depois que a filha Gloria abandona o lar. Filipa, a bisavó, vai embora por não conseguir lidar com o ressentimento de ter uma família destruída. Apesar da atmosfera de amor que envolve Laura, a criança, sentimos todas as dores dela em uma vida de questionamentos e silêncio, da criança que é abandonada por pai e mãe. Aline, que á uma escritora que tem o dom de comover o leitor, expõe todas essas dores de forma profunda, tecendo uma rede de conflitos familiares que são muito presentes na vida das mulheres. Aliás, Aline nos lembra que mesmo em tempos e lugares diferentes, as mulheres sempre sofrem os mesmo problemas e carregam os mesmos medos. O final é devastador e nos faz questionar se somos realmente livres.
Essa resenha será postada nas plataformas Instagram (@abilbiotecadamica), Skoob, GoodReads e Amazon Reviews.

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Uma narrativa pungente e comovente sobre três gerações de mulheres marcadas por silêncios, traumas e vínculos familiares quebrados. Aline Bei entrega mais uma vez uma escrita poética e dolorosa, com personagens femininas potentes e vulneráveis ao mesmo tempo. Com um estilo fragmentado que já é característico da autora, o romance traz camadas de violência velada e explícita, afetos ausentes e memórias que doem como feridas abertas. O final é especialmente impactante e me deixou emocionada. Uma leitura que permanece ecoando depois da última página.
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