Baita livro legal e ligeiro de ler “Boca do Mundo”, de Dia Nobre. Não é um livro de horror no sentido do macabro e do medo, mas é literatura assombrada que trata de traumas e também de cura. Fala de violência contra mulheres e traz encantadas, santas vingadoras, assombrações e o monstro da pior espécie.

A história se passa em Urânia "um povoado no Nordeste do Brasil que se transforma, sob a proteção do espírito de uma jovem assassinada, em refúgio para mulheres em situação de abuso e violência", mas é principalmente um romance construído pelos entrelaces das vidas de diversas mulheres a partir da sua protagonista Abigail que sofre com as consequências de um casamento arranjado pelo pai e, ao tomar decisões para acabar com aquilo, inicia sua jornada de independência e criação do que irá se tornar a cidade cenário central do livro.

Todo livro é um mundo, e há livros que te apresentam novos mundos. Boca do Mundo é exatamente esse tipo de livro. Algumas coisas eu já conhecia vagamente; outras fui pesquisar, e posso dizer sem dúvida alguma que saí culturalmente mais rica.

A forma como as histórias e os elementos se entrelaçam, sem atropelos e se encaixando perfeitamente, é admirável, porque o risco é grande.

A abordagem diferente sobre um tema que, infelizmente, continua atual foi o que mais me chamou atenção.

Abigail é uma personagem que me conquistou.
Hermínia, santa? Ou apenas extremamente humana?
Teresa, alguém que não teve tempo de se conhecer.
Bamila, essa sempre soube ser.

E tem ainda D. Bea... e também uma serpente.

Leiam, se gostam de uma boa história. E, principalmente, se estão dispostos a conhecer novos mundos.

Uma menção mais que honrosa para a capa perfeita, assinada pela Flávia Castanheira.