Apesar de bem escrito e intrigante, senti que a história demora um pouco a engrenar e deixa certas perguntas no ar. Mas a genialidade do autor está justamente em mostrar que, às vezes, a explicação não vem na própria narrativa, e sim na reflexão posterior, e nesse caso, o posfácio foi essencial para completar minha experiência.

King entrega uma história densa, estranha e inquietante, que só se completa quando a gente entende a intenção por trás. Não é terror clássico, mas sim aquele mistério psicológico que fica martelando na cabeça.

Em uma ilha no Maine, dois jornalistas, Dave e Vince, contam a sua pupila as peculiaridades da região e seus mistérios. Stephanie percebe que os dois ainda guardam a maior história que conhecem — e os instiga a revelá-la. Seja por vaidade ou mesmo pela passagem do tempo, que os incentiva a passar o bastão, eles resolvem contar sobre a morte inexplicável do Garoto do Colorado.

Entre 2010 e 2015, foi exibido o seriado Haven, inspirado nesta obra. E, assistindo Haven, descobri a existência desse livro. Posso afirmar que, entre todos os títulos do mestre, este era o que eu mais desejava ler — e, finalmente, em 2025, a Suma o publicou.

Embora o seriado seja baseado no livro, as histórias são bem diferentes, com apenas algumas referências aqui e ali. Enquanto o seriado traz diversos casos misteriosos em uma cidade repleta de segredos e elementos sobrenaturais, com muitos personagens e a agente do FBI Audrey Parker no centro de tudo, o livro é centrado nos dois jornalistas, contando a história para Stephanie, na redação do jornal, durante uma tarde.

O caso parece simples: um homem é encontrado morto na praia, e a causa aparente é engasgamento. No entanto, Dave não acredita nisso e, como bom jornalista, tenta descobrir a identidade da vítima e sua história. A partir daí, várias suposições surgem, e o mais intrigante é a impossibilidade de ele estar no Maine quando, poucas horas antes, estava no Colorado. Dave acredita que foi assassinato, mas provar isso não é fácil.

Diferente de outros livros do King, este não é um calhamaço — tem apenas 144 páginas. É uma história instigante do começo ao fim, que nos faz criar mil teorias sobre o que levou à vida desse homem ao fim. Fatos e fotos constroem um cenário impossível na realidade, nos levando a um desfecho que certamente vai gerar polêmica entre os leitores.

E King, mais uma vez, me deixou admirada com seu trabalho de escrita e talento inegável como contador de histórias. Recomendo!

O grande mistério

O garoto do Colorado é aquele mistério de cidade pequena que atravessa décadas. É o corpo que aparece na praia em uma ilha e gera especulações que seduzem seus habitantes.

King conversa com o leitor, trazendo os mistérios e os detalhes. Na verdade, dois idosos senhores do jornal local conversam com a jovem estagiária, mas sentimos que os fatos são apresentados para nós.

Não temos solução, o mistério é o norte do livro. Livro curto, na verdade uma novela, que deve ser apreciada pelo que é. O fascínio pelo mistério, pelo que não pode ser explicado. Nesse sentido, a narrativa cumpre o que promete, levando ao leitor a diferente conjecturas quanto ao garoto, ou homem, do Colorado.

Sabe cidade pequena e seus mistérios?
É um pouco sobre isso este livro, mas também é sobre por que dois jornalistas veteranos estão passando essa história adiante para uma jovem estagiária recém-chegada à cidade.

A noveleta funciona muito bem. Não espere respostas para o bendito mistério, curta os motivos, jornalísticos e humanos, que impulsionam a narração dos fatos.

A escrita do King é sempre envolvente, e você vai se ver tentado a descobrir o que aconteceu com o Garoto, não tão garoto, do Colorado.