Jarid Arraes escreve com uma delicadeza rara. Caminho para o grito fala de traumas pesados, experiências que poderiam esmagar o leitor, mas a autora encontra na poesia um modo de narrar que dói sem ferir.

Não é que exista uma suavização da dor, mas um cuidado no modo de compartilhá-la. O impacto vem forte, inevitável, mas não como uma violência contra quem está lendo, e sim como uma forma de testemunhar, compreender e dividir.

É uma leitura que acolhe mesmo com a exposição da dor.

Em seu mais recente lançamento, Jarid Arraes aborda um tema extremamente doloroso e difícil de digerir: o abuso sexual, sobretudo infantil.

Dividido em 3 partes, a autora traz poemas que seguem uma linha de amadurecimento e elaboração de tudo vivenciado. Indo do início de toda a situação, ou seja, exatamente onde e como o trauma foi instaurado, até a libertação pessoal.

Segundo a própria autora, esses poemas são o seu grito pessoal diante de toda essa devastadora experiência. Se o tema central já era algo tão real e presente na nossa sociedade, saber que se trata de sua vivência pessoal deixou tudo ainda mais difícil de acompanhar.

Difícil, porém, muito necessário!

Que mais mulheres se fortaleçam e tenham segurança para darem seus próprios gritos, cada vez mais!